Especialistas em finanças acreditam em acordo para aumento do teto da dívida dos EUA e descartam calote

26/07/2011 - 20h46

Stênio Ribeiro
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Bolsas de valores em queda no mundo inteiro e o dólar com desvalorização mais acentuada dão a tônica da apreensão que tomou conta dos mercados por causa do impasse da dívida norte-americana, que é US$ 14,3 trilhões. Mas, de modo geral, quem acompanha as finanças mundiais acredita que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o Congresso chegarão a um acordo, até o próximo dia 2, para o aumento da dívida.

O professor de economia da Universidade de Brasília (UnB), Roberto Piscitelli, disse que confia no bom-senso dos democratas e republicanos, partidos políticos que dominam a Câmara dos Representantes (equivalente ao nosso Parlamento) em Washington. “Acredito que eles vão encontrar uma saída, porque um calote dos Estados Unidos na dívida seria uma crise de proporções globais mais drástica do que foi a crise de 2008”.

No entendimento do professor, os republicanos – mais conservadores e de oposição a Obama – “querem botar o presidente contra a parede para que ele faça concessões”, como o corte de US$ 1,5 trilhão no Orçamento do ano fiscal dos EUA, que termina em setembro. Os oposicionistas ressaltam a necessidade de redução do déficit público, provocado em grande parte pelo ex-presidente George W. Bush – último representante dos republicanos na Casa Branca.

Piscitelli aposta em um acordo. Principalmente porque um rompimento entre o Executivo e o Parlamento “abalaria um dos pilares da democracia norte-americana”, sem falar no impacto negativo que um calote da dívida dos EUA provocaria no mundo inteiro. A começar por países que concentraram suas reservas em títulos do Tesouro norte-americano, como é o caso do Brasil e da China.

De acordo com números do Banco Central, as reservas brasileiras fecharam o mês de junho com estoque de US$ 335,775 bilhões, dos quais US$ 293,533 bilhões (equivalentes a 87,42% das divisas internacionais) atrelados aos títulos soberanos dos EUA. No caso da China, o prejuízo seria ainda maior, uma vez que o país asiático é o maior credor dos Estados Unidos, com títulos no valor de US$ 1,16 trilhão, de acordo com o próprio Tesouro americano.

Especialista em mercado financeiro, o representante do Conselho Regional de Economia do  Distrito Federal (Corecon-DF) Victor José Hohl ressalta que “ninguém acredita” na possibilidade de o acordo não sair. Segundo ele, a inadimplência dos EUA seria o caos, pois ninguém pode esquecer que todo o sistema monetário mundial é atrelado ao dólar.

O mundo inteiro acredita, de acordo com o economista do Corecon-DF, que “na última hora eles [democratas e republicanos] vão aprovar” o aumento do teto da dívida. Lembra, porém, que “este impasse todo começa a mostrar ao mundo que a economia dos Estados Unidos está meio falida”. Só que enquanto não chegam a uma solução, os agentes financeiros continuam apreensivos, com os mercados de ações e o dólar em queda.

Os Estados Unidos atingiram o limite máximo de endividamento público no dia 16 de maio. Ocasião em que o Tesouro adotou medidas, com eficácia até 2 de agosto, para evitar o aumento da dívida. Depois deste prazo, caso o teto não seja elevado, o governo norte-americano não terá mais dinheiro para cumprir algumas de suas obrigações financeiras.

 

Edição: Aécio Amado