Diagnóstico tardio ainda é um complicador no enfrentamento da aids no país, apontam especialistas

05/06/2011 - 14h46

Flávia Villela
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – O Brasil é um dos poucos países que desenvolvem produção e distribuição de testes rápidos de diagnósticos de HIV para a população. Ainda assim, o diagnóstico tardio representa um dos maiores problemas no enfrentamento da aids, segundo especialistas na área e organizações da sociedade civil.

O gerente do Programa de Reativos para Diagnóstico do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Biomanguinhos), da Fundação Oswaldo Cruz, Antônio Ferreira, ressaltou que nos últimos anos foram muitos os avanços, mas reconhece que o diagnóstico tardio é um desafio para as autoridades brasileiras.

“Acho que essas ações de incorporação de testes rápidos, os antirretrovirais, certamente contribuem para minimizar o problema, mas não dão conta de resolver tudo. Apesar do trabalho excepcional do Ministério da Saúde nesse segmento de DST [doenças sexualmente transmissíveis] e aids, ainda há necessidade de reforço pesado em educação e prevenção”.

Dados do Ministério da Saúde indicam que a média nacional de mortes é de 6,1 por 100 mil habitantes. Uma pesquisa recente da Universidade de São Paulo (USP) mostra que 40% da mortalidade por aids no Brasil estão associadas ao diagnóstico tardio, concentrado em residentes das regiões Norte e Nordeste, pessoas que têm menor acesso aos serviços de saúde.

A Biomanguinhos produz anualmente mais de 2 milhões de testes rápidos de triagem de HIV para ser distribuído pelo Ministério da Saúde. A partir de agosto, a Fiocruz passará a disponibilizar também testes rápidos de confirmação de aids. “Estes testes que vamos implantar a partir do segundo semestre vão ser uma contribuição muito importante no combate à aids, pois o resultado sai na mesma hora e a pessoa já pode iniciar o tratamento. Existem muitos casos de pessoas que fazem o exame, mas não voltam para buscar o resultado”.

Os testes confirmatórios são direcionados para pessoas que já obtiveram resultado positivo de HIV e a produção do kit será 150 a 200 mil por ano, segundo o funcionário da Fiocruz.

Para o secretário executivo do Fórum ONGs/Aids, Willian Amaral, o problema crônico na saúde pública do Brasil é o responsável pelos altos índices de mortalidade no país.

“As pessoas adoecem de aids porque não têm assistência na ponta, não têm atenção básica. Se houver acesso à terapia antirretroviral e atendimento com um mínimo de qualidade, o paciente dificilmente vai adoecer”.

William lembrou que recentemente ficou comprovado que o tratamento com antirretrovirais diminui o risco de transmissão do vírus em relações sexuais. “Quanto mais pessoas forem diagnosticadas logo e tratadas, menor será o impacto da epidemia no futuro”, defendeu Willian.

Segundo o representante do Fórum Ongs/Aids, a subnotificação é outro problema grave. “A pessoa morre de aids sem diagnóstico. Ela morre na emergência com tuberculose e não há nenhuma investigação. Existe um número elevado de óbitos por doenças oportunistas que não é diagnosticado. Com isso, ficamos sem saber qual é a real situação da aids no país”.

Segundo o presidente da organização não governamental Grupo Pela Vidda-São Paulo, Mário Scheffer, existem pelo menos 250 mil soropositivos que nem sequer sabem que têm o HIV. Scheffe que também é pesquisador do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, disse que é importante assumir que há o perfil de uma epidemia concentrada, “de grupos que são afetados pelo HIV de forma mais contundente e que merecem políticas diferenciadas de prevenção”.

Edição: Fernando Fraga