Consumidores tentam driblar alta dos alimentos com pesquisa de preços e mudança de hábitos

01/04/2011 - 20h59

Wellton Máximo
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Para driblar a alta nos preços dos alimentos, os consumidores recorrem à pesquisa de preços e à mudança de hábitos. Trocar de produtos, substituir marcas caras por mais baratas e até trocar de supermercado. Vale tudo para fugir da inflação.

Moradores de Formosa, cidade goiana no Entorno do Distrito Federal, os professores Christian Paiva, 38 anos, e Karla Paiva, 32 anos, costumam fazer compras em Brasília para fugir dos preços altos. Com a disparada nos preços de determinados alimentos, nos últimos meses, o casal diversificou os lugares onde fazem compras para economizar. “São diferenças de R$ 1 ou até centavos que dão boa economia”, diz Karla.

A receita é seguida pela vendedora autônoma Gilvânia Azevedo, 45 anos. Em dias de promoção, ela vai a vários mercados. “Comprar tudo no mesmo local custa mais”, justifica. Além disso, ela paga tudo em dinheiro para fugir dos juros do cartão de crédito.

Segundo Christian e Karla, os maiores aumentos foram na carne, no leite e no arroz. O aposentado Jovir Nascimento, 77 anos, acrescenta os legumes, o café e o pão como vilões da inflação. Para ser menos afetado pelas altas de preços, ele recorre às promoções e decidiu mudar de marca e até de produto. “Passei a comprar marcas mais baratas e até troquei a carne pelo peixe, que está mais em conta”, diz.

De acordo com a professora aposentada Ana Celestin, 74 anos, a inflação dos alimentos não é um processo recente. Ela estima que a comida tenha ficado pelo menos 30% mais cara nos últimos cinco anos. Para economizar, ela prefere almoçar fora. “O quilo da carne custa R$ 12. Com metade disso, almoço no restaurante, sai mais barato”.

Em fevereiro, a inflação oficial pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu 6,36% no acumulado de 12 meses, quase 2 pontos percentuais acima do centro da meta de 4,5% para 2011. A pressão sobre os preços é tão grande, que o Banco Central, no Relatório de Inflação, divulgado na quarta-feira (30), aumentou a estimativa do IPCA para 5,6% neste ano, ainda dentro do intervalo de variação da meta, que é de 2,5% a 6,5%, porém mais próximo do teto.

Apesar da desaceleração em fevereiro, os alimentos foram um dos principais vilões da inflação em 2011. Em janeiro, os alimentos e as bebidas representaram 0,27 ponto percentual da inflação de 0,83% pelo IPCA, só ficando atrás dos transportes, influenciado pelo aumento nas passagens de ônibus de algumas capitais.

Segundo o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Reinaldo Gonçalves, os preços dos alimentos estão sendo influenciados pelo mercado internacional. A alta nos preços das commodities (bens primários com cotação no exterior, como café, milho e açúcar), aliada às chuvas de início de ano, provocou um choque de oferta. “Sem dúvida, a demanda internacional está pressionando o preço das commodities”, explica.

O professor, no entanto, ressalta que os fatores externos não são os únicos culpados. Problemas estruturais no mercado brasileiro, como o combate ineficiente a abusos econômicos, agravam a inflação. “Qualquer pequeno crescimento do lado da demanda esbarra em problemas da oferta”, diz.

O economista chefe da corretora Convenção, Fernando Montero, afirma que o crescimento econômico e medidas de indexação da economia (como a definição de uma política fixa para o salário mínimo) impulsionam a inflação. “Um choque de alimentos é mais forte no Brasil porque eles têm peso maior na cesta de consumo. Um choque de oferta é mais inflacionário porque estamos com economia aquecida. A inflação é mais persistente porque nossa economia acompanha inércia inflacionária e a economia tem inércia elevada porque estamos indexando cada vez mais”, avalia.

Edição: Lana Cristina