Crise preocupa América Latina com protecionismo e desemprego

17/02/2009 - 22h19

Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A crise financeira deve estabelecer um novo ambiente de monitoramentoe regulação estatal das atividades econômicas, em substituição àsituação de grande liberdade de movimentação do capital. Apossibilidade de aumento da intervenção do Estado na economia já começaa ser avistada nos anúncios de encampação de bancos norte-americanos eingleses, nas políticas monetárias de aumento de crédito e nas medidasfiscais expansivas para ativar a produção e estimular o consumo.Odiagnóstico foi traçado no seminário Crise Econômica Internacionalpromovido pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e pelaCepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe) hoje (17), em Brasília. Para os economistas palestrantes, os países latino-americanos nãoestão no epicentro da crise, mas duas nuvens carregadas pairam sobre océu do subcontinente: fechamento de postos de trabalhos e aumento debarreiras comerciais entre parceiros regionais.De acordo comJanine Berg, do Departamento de Estratégias de Emprego da OIT(Organização Internacional do Trabalho), a crise deve levar aodesemprego, ao aumento da informalidade nas contratações e aodescumprimento da legislação trabalhista. Há risco de mais pobreza edeterioração do padrão de vida, e aumento do trabalho forçado e dotrabalho infantil. “Não podemos debilitar ainda mais o trabalho daspessoas excluídas”, afirmou.Oswaldo Kacef, da Divisão deDesenvolvimento da Cepal, não acredita no aumento de “situaçõesextremas” de exploração da mão-de-obra, mas dá como certo o aumento dainformalidade e do desemprego. Para Renato Baumann, diretor doescritório da Cepal no Brasil, a crise vai afetar principalmente asmulheres e as pessoas mais jovens. “O desemprego afeta indivíduos commenor capacidade de competir no mercado de trabalho, seja pornecessidades familiares, falta de qualificação ou mesmo preconceito”,disse.A receita para sair da crise, dizem os economistas, é oinvestimento público. “É preciso o Estado compensar a redução doinvestimento privado”, acredita Alfredo Calcagno, economista sênior daUnctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio eDesenvolvimento). “É hora de fazer políticas expansivas. Não é omomento para ajustes para acalmar mercados. Isso não funcionou nosúltimos anos e vai ser menos razoável tentar agora”, afirmou oeconomista que não teme que o gasto estatal e a queda dos juros possamtrazer inflação.Na avaliação dos economistas, o Estado gastarmais é mais efetivo do que as políticas monetárias de aumento decrédito ou desconto de impostos, que pode ser usado para quitar dívidasou para a poupança sem incentivar consumo, produção e emprego.O argentino Alfredo Calcagno defende a maiorintegração regional e prega contra o protecionismo. “Um risco nestemomento é um país impor barreiras contra um país vizinho. A integraçãoregional pode ser uma resposta positiva para superar a crise”. O mesmo ponto de vista tem Renato Baumann,  para quem as trocas comerciais regionais podem dar“complementariedade” às economias dos países.