Crise pode colocar o Brasil no caminho do crescimento pela industrialização

16/01/2009 - 21h34

Vinicius Konchinski
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - O ex-secretário especial do Ministério da Fazenda eprofessor da Fundação Getulio Vargas, Yoshiaki Nakano, disse hoje (16) que acrise mundial pode ser uma grande oportunidade para o Brasil. Durante apalestra de encerramento do Programa Avançado Latino-Americano para oRepensamento do Macrodesenvolvimento Econômico (Laporde, na sigla em inglês),em São Paulo, Nakano afirmou que a queda da liquidez global pode forçar o paísa tomar medidas pró-industrialização - o que seria benéfico para o desenvolvimento brasileiro.“A crise pode ser a oportunidade do país voltar a crescer”,disse, comparando as taxas de crescimento apresentadas desde 1994 com ocrescimento nas décadas de 60 e 70.Segundo Nakano, o Brasil, de certa forma, se acomodou com oaumento do dinheiro em circulação verificado a partir dos anos 90 e tomoumedidas que, segundo ele, acabaram por desindustrializar o país. Entre elas, a redução dacotação do dólar frente ao real, que tornou a indústria nacional não-competitiva,e aumentou sua taxa de juros, para atrair capital estrangeiro. Por causa disso, de acordo com o economista, oBrasil deixou de um dos países mais industrializados do mundo para um mero exportador de commodities.Para Nakano, a crise vai eliminar grandeparte do dinheiro circulante e derrubar o preço das commodities.Assim, o Brasil não receberá mais tantos investimentos estrangeiros e nãolucrará tanto com as atividades que desempenha hoje.  “O país serápressionado a baixar juros, deixar o dólar subir, e incentivar odesenvolvimento da indústria”, afirmou.De acordo com ele, o caminho a ser traçado pelo Brasil seráo mesmo já percorrido por países asiáticos que hoje têm taxas de crescimentomuito maiores que as brasileiras. A diferença, disse Nakano, é que esses paísesjá tomaram essas medidas há algum tempo, e fizeram isso por decisões políticas e nãopor causa da crise.O economista disse ainda que a crise atual deve ser longa e tirarádo mercado “algumas centenas de trilhões de dólares”, dinheiro atualmente aplicado em títulos ederivativos.Ao final do Laporde, o ex-ministro da Fazenda, Luiz CarlosBresser-Pereira, convocou os economistas que estiveram reunidos na FGVdurante os cinco dias do evento a criar uma rede de estudos sobre amacroeconomia e o desenvolvimento da América Latina. Bresser-Pereira sugeriu acriação de uma associação de economistas latinos para a difusão de idéias parao bom funcionamento das economias do bloco.Este foi o primeiro Laporde realizado no Brasil. O evento fazparte do calendário oficial da Universidade de Cambridge e, a partir de agora,deve ser promovido anualmente.