Política de cotas divide país em negros e brancos, defende antropóloga

17/11/2008 - 19h37

Amanda Cieglinski
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Para a antropólogada Universidade Federal do Rio de Janeiro, Yvonne Maggie, a reservade vagas para negros nas universidades públicas ou em qualqueroutra instituição é uma medida errônea eperigosa porque parte do princípio da crença em raças, o que segundo ela éinexistente.“Ascotas para negros carregam em si o veneno em lugar de soluçãoporque para diminuir o racismo, elas constituem, fundam, a idéiade raça, dividindo os estudantes por força de lei emnegros e brancos para assegurar direitos”, explica.Maggieé uma das intelectuais que em abril entregaram uma carta aoSupremo Tribunal Federal (STF) pedindo o fim da política de cotas.Ela aponta que essa divisão contribui para a segregação.“As pessoas dizem que a sociedade brasileira já édividida, mas ela não é dividida legalmente em negrose brancos, as leis são universais para todos. As políticasde cotas fazem essa segregação”, defende.Apesquisadora alerta que em episódios anteriores em que oEstado “obrigou” as pessoas a se definirem de acordo umacategoria, os resultados foram negativos. “ Todas as vezes emque o Estado se meteu a definir a raça das pessoas produziumuito mais dor do que alívio, a começar peloholocausto”, argumenta. Maggie acredita que os resultados desse tipo de intervenção podemser “a morte e a carnificina” quando um dos grupos usa essacategorização como uma arma para defender seus direitos“Foi assim com o nazismo, foi assim em Ruanda”, cita.Para o coordenador doNúcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade deBrasília, Nelson Inocêncio, os movimentos e indivíduosque são contrários à política de cotasestão “alienados” ao processo. “Você começoucom um movimento de uma ou outra universidade implantando o sistema ehoje são várias, ou seja, a tendência é ocrescimento. Quem está refratário, não sóestá contra como também não está fazendoa leitura do processo. De certa forma, está alienado porqueignora algo que está se adensando de maneira efetiva”,defende.Para Inocêncio, umpaís não pode defender a democracia enquanto nãoenfrenta a questão do racismo. “Não adianta se falarem democracia e não perceber que existe um contingente dequase a metade da população que está excluídode um processo cidadão. É paradoxal falar de democraciasem combater o racismo”, defende.