Economista defende que Brasil enfrente o risco e faça mudanças

21/04/2006 - 20h05

Spensy Pimentel
Enviado especial

Recife - O economista Carlos Eduardo de Carvalho, colaborador do primeiro programa econômico de Luiz Inácio Lula da Silva, em 1989, considera que o governo brasileiro deveria mirar-se no exemplo argentino para tomar a decisão política de enfrentar os conflitos resultantes de uma ação mais efetiva na mudança da atual política econômica. "Poderíamos enfrentar com mais força esse desafio. A Argentina fez isso, a China também enfrenta e ganha. Por que nós não podemos?", pergunta ele, que participou hoje de um evento promovido pela Ação pela Tributação das Transações Financeiras e Apoio aos Cidadãos (Attac), durante o 2º Fórum Social Brasileiro.

Para o hoje professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, a receita para a mudança que permitiria a retomada do desenvolvimento envolve cortes rápidos na taxa de juros e medidas de controle de capital. "Depois, é preciso firmeza para enfrentar o conflito político que isso vai causar. Não há como ter segurança prévia", diz ele. "Se qualquer coisa que a esquerda deve fazer para mudar essa política tiver de ser evitada para que não haja conflito com o capital, por que é que eles foram eleitos, e não o Fernando Henrique ou o PFL?"

Carvalho reconhece que a situação brasileira é distinta da argentina, por exemplo, já que aqui a dívida interna é que tem maior magnitude, em vez da externa. "Aqui, uma medida mais dura pegaria os bancos nacionais e a elite local de forma mais direta", diz ele. "Lá, era uma dívida principalmente com os bancos estarngeiros."

Para o economista, que rompeu com o PT durante a elaboração do programa de governo na campanha de 1994, seria preciso renegociar duramente com os bancos nacionais. Segundo calcula Carvalho, essas instituições detêm cerca de 30% da dívida interna (hoje em torno de R$ 1 trilhão). "Pega essa parcela, congela, troca por papéis de dez anos de prazo. Chama os bancos: ou vocês aceitam, ou vão falir e ser estatizados. Se peitar, garanto que eles negociam", diz.

O professor da PUC diz que não seria preciso dar "calote" na dívida para resolver o problema. "Ninguém quer dar calote. Esse é o termo que eles usam para desqualificar as nossas propostas. Não seria preciso tirar a garantia de ninguém que tem dinheiro aplicado", diz. "Eles montam o problema de tal forma que vendem a idéia de que só existe uma solução. Não é verdade."

O debate de que participou Carvalho teve também a presença do deputado Sérgio Miranda (PDT-MG). Para ele, projetos que tramitam atualmente no Congresso, como a regulamentação do Banco Central, e outras normas internas do BC já aprovadas estão promovendo uma "dolarização disfarçada" no país, porque ampliam a facilidade de conversão entre dólar e real para os investidores estrangeiros, empresas multinacionais e exportadores.