FHC se despede do Pará e diz que acredita na força dos brasileiros

20/09/2002 - 21h03

Belém, 20 (Agência Brasil - ABr) - O presidente Fernando Henrique Cardoso fez hoje uma espécie de despedida do Pará durante uma cerimônia de inauguração de um complexo viário no estado. Acompanhado pelo governador Almir Gabriel, que também está deixando o cargo depois de oito anos, o presidente chegou a dizer que se não fosse uma insolência beijaria o solo do Pará, tamanho o orgulho e a gratidão que sente pelo estado. "Mas isso, só o Papa pode fazer", disse, levando a platéia de cerca de cinco mil pessoas às risadas. O papa João Paulo II tinha o hábito de beijar o solo de países que visitava durante seu pontificado. Atualmente, o pontífice não repete mais o gesto devido às limitadas condições de saúde.

Em discurso de improviso, o presidente agradeceu o apoio de Gabriel e do povo paraense para o sucesso na conclusão de obras públicas da envergadura do complexo viário hoje inaugurado. Orçada em R$ 246 milhões, a Alça Viária do Pará reúne quatro pontes e cerca de 70 km de rodovias que vão interligar a região metropolitana de Belém ao leste do estado.

O agradecimento acabou sendo estendido ao povo brasileiro, "que soube se mobilizar nestes oito anos para transformar o país". Fernando Henrique lembrou que no início de seu mandato, assim como o governador paraense, tinha a impressão de que poderia resolver todos os problemas, mas que logo percebeu que as dificuldades eram muitas e chegou a pensar que nada poderia ser feito. O quadro só foi revertido graças ao respaldo e ao trabalho dos brasileiros.

"Esse é o novo Brasil. Ele não é do caudilho, não é o do sabe tudo, não é do mandão, não é do homem que acusa. É do homem que procura convencer, que dialoga. Convencer significa vencer junto. E nós estamos vencendo as dificuldades", disse ao lembrar que hoje o Brasil é um país reconhecido no exterior por sua seriedade.

Tal reconhecimento, na avaliação do presidente, também foi obtido graças à ajuda do "forte" povo brasileiro. Fernando Henrique chegou a usar a classificação de Euclides da Cunha para expressar o quanto o povo brasileiro dispõe de força e coragem para "seguir o rumo" traçado para o Brasil em seus dois mandatos. O escritor, reconhecido por sua obra "Os Sertões", na qual retratou o sertanejo no início do século XX, dizia que o habitante da caatinga tinha uma força extraordinária porque era capaz de suportar as grandes dificuldades impostas pelo clima e aridez da Região Nordeste do Brasil.

"Não é o sertanejo apenas que é o forte. O povo brasileiro é muito forte. Tão forte que não haverá turbulência internacional, crise, dificuldades, nada, nada mesmo que possa parar nosso caminho por uma sociedade melhor", afirmou. Ele destacou que para manter este rumo são necessárias as condições básicas – educação, saúde e trabalho – e também uma base espiritual que, segundo o presidente, é esbanjada no Brasil. "Sabemos perdoar, sabemos esquecer quando é necessário e somos um povo que antes de tudo tem a vontade de continuar avançando", afirmou.

O governador Almir Gabriel também fez da solenidade uma despedida. Começou agradecendo o trabalho de todos os que colaboraram com seu governo, desde os membros da sua equipe pessoal até o presidente. Ele agradeceu sobretudo pela renegociação das dívidas do estado e destacou que a Alça Viária vai garantir não só a integração do estado, mas também de todo o país com a região Norte. "Essa era uma espinha que vinha me apoquentando. (...) Ela é o abraço de integração entre o sul e o sudeste do estado e também com o Brasil", afirmou.