Paula Laboissière e Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A Fundação Nacional do Índio (Funai) exonerou o coordenador da Regional Madeira, no Amazonas, Ivã Gouvêa Bocchini. A regional é responsável pela condução da política indigenista na região de Humaitá, no sul do Amazonas, onde, há duas semanas, uma reserva Tenharim foi atacada por não índios. Construções e carros da Funai foram incendiados, obrigando parte dos índios a buscar abrigo em uma unidade do Exército.
A portaria da Funai com a exoneração de Bocchini foi publicada hoje (10) no Diário Oficial da União. Procurada pela reportagem, a Funai informou que não vai se pronunciar sobre o assunto e não informou quem assumirá a coordenação regional.
No início de dezembro, Bocchini se envolveu em uma polêmica ao comentar a hipótese de o cacique Ivan Tenharim ter sido assassinado. Crítico da ação ilegal de madeireiros que atuam na região, o líder indígena foi encontrado morto, caído às margens da Rodovia Transamazônica (BR-230), com vários hematomas pelo corpo e um ferimento na cabeça. As causas e as circunstâncias da morte ainda não foram esclarecidas. Há suspeitas de que ele sofreu um acidente de moto.
Poucos dias depois da morte do cacique, três homens desapareceram enquanto passavam de carro pela Reserva Indígena Tenharim Marmelos, cortada pela Rodovia Transamazônica. Existe a hipótese de que o desaparecimento do professor Stef Pinheiro de Souza, de 43 anos, do técnico Aldeney Ribeiro Salvador, de 40, e do representante comercial Luciano Ferreira Freire, de 30 anos, tenha sido em represália à morte do cacique. A polícia instaurou inquérito para apurar os desaparecimentos, mas a tensão entre índios, madeireiros e moradores de Humaitá se acirrou com os primeiros ataques à aldeia indígena.
O coordenador regional do Conselho Indigenista Missionário (Cimi-Norte), Guenter Francisco Loebens, disse que desconhece o motivo da exoneração de Bocchini, mas criticou a atuação da fundação durante os recentes episódios. “Não sei o que motivou a exoneração, mas percebemos uma ausência muito grande da Funai em relação aos últimos acontecimentos. Inclusive no sentido de apoiar os tenharins. Só depois que o Ministério Público a acionou, a Funai fez algo para garantir a segurança da comunidade. Esperávamos uma ação mais ativa da fundação na questão da proteção aos índios, já que o contexto era de extrema violência e os índios estavam vulneráveis”, disse Loebens à Agência Brasil.
Em nota divulgada quarta-feira (8), a Funai lembrou que não é omissa em relação à segurança dos índios tenharim, mas que seu trabalho, nesse caso, é muito mais de mediação. De acordo com a fundação, vinculada ao Ministério da Justiça, no dia 28 de dezembro, a Justiça Federal concedeu liminar determinando que tanto a entidade quanto a União elaborassem um plano para garantir a integridade física dos indígenas. A Justiça determinou ainda envio de cópia do processo à Organização dos Estados Americanos (OEA), para avaliar possível violação de direitos. A Funai chegou a pedir reconsideração da decisão, mas ela foi mantida.
Edição: Denise Griesinger
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