Camila Maciel
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – As avaliações de impacto feitas pela ProTeste Associação de Consumidores em 16 modelos de cadeirinhas automotivas mostraram que as marcas comercializadas no Brasil têm desempenho no mínimo aceitável quando submetidas a impacto frontal. Quando submetidas a um impacto lateral, no entanto, os resultados variaram de aceitável a fraco, na maioria dos modelos. A marca Cosco, modelo Commuter XP para crianças de 9 a 36 quilos (kg), por sua vez, foi considerada ruim devido ao impacto direto da cabeça do boneco, que simula a criança, contra a lateral do veículo.
Nenhum dos modelos analisados recebeu a classificação máxima de cinco estrelas, de acordo com metodologia da Global NCAP (sigla em inglês para Programa de Avaliação de Carros Novos), entidade parceira da proposta que fez os testes. “Fomos criticados por utilizar padrões estrangeiros, o que desacreditaria os dispositivos de retenção infantil no Brasil. Respeitamos a argumentação, mas discordamos dela, pois acreditamos que uma associação de defesa do consumidor deve estar à frente do seu tempo, mirar o futuro”, justificou Maria Inês Dolci, coordenadora institucional da Proteste.
Essa posição é compartilhada pelo diretor substituto de Avaliação da Conformidade do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), Paulo Coscarelli. “As entidades de direito do consumidor têm um foco prospectivo”, declarou. Ele explica, por exemplo, que o ensaio de impacto lateral não é previsto em nenhuma outra norma ou regulamento no mundo, mas que está contemplado no trabalho da Proteste. A partir desses estudos, outros requisitos podem ser incorporados aos padrões exigidos atualmente pelo instituto.
Os melhores resultados, nos modelos para crianças de até 13 kg foram registrados pelas marcas Bébé Confort StreetyFix, Chicco Keyfit e Maxi Cosi Citi SPS, com quatro estrelas cada. Elas tiveram resultados considerados bons, tanto para os itens de segurança como para a avaliação de facilidade de uso. A escala é composta pelas seguintes faixas: muito bom, bom, aceitável, fraco e ruim.
Ainda na categoria para crianças de até 13 kg, as demais marcas analisadas receberam três estrelas: Peg Perego Primo Viaggio Tri-Fix, Burigotto Tourin e Galzerano Piccolina. Todas foram consideradas aceitáveis no quesito segurança. No item facilidade de uso, no entanto, a marca Galzerano recebeu classificação aceitável, enquanto as outras foram classificadas como boas.
Nos modelos para crianças de 9 kg a 36 kg, apenas a marca Infanti ganhou quatro estrelas, sendo considerada boa, tanto no quesito segurança como no item facilidade de uso. As marcas Chicco, Burigotto e Graco receberam três estrelas. Todas foram consideradas aceitáveis em relação à segurança. Em relação à facilidade de uso, a Burigotto e a Graco foram consideradas boas e a Chicco, aceitável. Por ter obtido avaliação ruim no item segurança, a marca Cosco recebeu apenas uma estrela.
A cadeirinha automotiva foi o único item trazido pelo marmorista Sérgio de Andrade, 32 anos, à maternidade para buscar hoje (26) a filha nascida no último sábado. “Tive que ir comprar. Paguei R$ 190. Quando meus outros filhos nasceram [atualmente com 10 anos e 9 anos], não era necessário, e eu nem tinha carro, de qualquer forma”, relatou. Apesar de estar preocupado em respeitar as regras de trânsito e também com a segurança da filha, Sérgio não conseguiu encaixar o acessório no carro e seguiu com a filha no colo da mãe.
O especialista do segmento automotivo e representante da Associação Holandesa de Defesa do Consumidor, Ronald Wroman, responsável pelos testes, destaca que “qualquer cadeirinha é melhor do que não usá-la”. Ele ressalta também que o uso correto do acessório tem relação direta com o nível de proteção. Além disso, o especialista aconselha a substituição por uma cadeira maior, de uso frontal, apenas quando a criança já estiver com peso adequado. “Quanto mais tarde, melhor, especialmente se mantiver a posição da criança de costas para o banco da frente”, indicou.
A Proteste testou ainda outro mecanismo que ainda não está disponível no Brasil, o isofix, o qual conecta a cadeira diretamente no carro, sem a utilização do cinto de segurança. “Os resultados com esse dispositivo foram superiores”, explicou. De acordo com o Inmetro, essa opção deve ser regulamentada até o final de 2014. Muitos veículos já são fabricados no país com esse sistema de fixação.
Desde 2010, tornou-se obrigatório o uso do dispositivo de retenção infantil, conhecido como cadeirinha automotiva. A Resolução 277 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) determina que crianças de até 1 ano e meio têm de ser transportadas no bebê conforto de costas para o movimento do carro, crianças de 1 ano a 4 anos devem ser levadas na cadeirinha, e dos 4 anos aos 7 anos e meio, no dispositivo conhecido como assento de elevação.
Levantamento do Ministério da Saúde mostra que houve redução de 23% das mortes de crianças com até 10 anos que estavam sendo transportadas em automóveis, após um ano da entrada em vigor da resolução.
Edição: Davi Oliveira
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