ONG católica diz que manual da JMJ sobre sexualidade está descolado da realidade

25/07/2013 - 18h41

Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - O manual de bioética distribuído para 355 mil peregrinos inscritos na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) reflete uma falta de harmonia da Igreja Católica com a realidade. A avaliação é da coordenadora da organização não governamental Católicas pelo Direito de Decidir, Regina Soares. Para ela, a opinião dos jovens é mais progressista que a expressa no guia.

Doutora em ciências da religião, Regina diz que as opiniões difundidas no documento, contra o aborto, contra o uso de métodos contraceptivos e contra a adoção de crianças por casais do mesmo sexo, por exemplo, têm uma “perspectiva religiosa e não científica”, que atinge principalmente a liberdade e a autonomia das mulheres sobre “o exercício da sexualidade”.

Para mostrar que os jovens apoiam mudanças nos rumos da moral sexual, ela cita dados de pesquisa do Ibope divulgadas em julho e que ouviu 4.004 pessoas a pedido da Católicas pelo Direito de Decidir. A constatação é que, dos jovens católicos entrevistados, 82% aprovam o uso da pílula do dia seguinte, e 56% o casamento entre pessoas do mesmo sexo, por exemplo.

“Se você perguntar para juventude que está aí quem é virgem, dá para imaginar que a maioria vive a castidade? Acho que não, isso seria irreal”, disse a coordenadora da ONG, sobre o fato de a Igreja não permitir relações sexuais antes do casamento e das pessoas fazerem mesmo assim.

Na avaliação dela, ao produzir e distribuir o manual, a Igreja perde a chance de discutir práticas de justiça social e democracia com os jovens para atacar direitos individuais. O resultado, acrescenta, é uma instituição descolada da realidade "por medo de perder fiéis", mesmo que nem todos seus representantes concordem com esses preceitos.

“São padres, freiras e leigos que estão cansados e até mesmo envergonhados deste discurso focado apenas nas questões da sexualidade. A Igreja tem dado respostas a perguntas que não estão sendo feitas e se ausenta do debate mais importante que é a justiça social”, reforçou.

 

Edição: Beto Coura
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