Carolina Sarres
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Luiza Pereira, 38 anos, e Teresa da Silva, 32 anos, a Tetê, são amigas e trabalham juntas há cerca de 15 anos. São manicures e buscam sempre atuar em dupla. Enquanto uma faz a mão, a outra faz o pé. No último ano, as duas já trocaram de emprego três vezes. Ficaram, em média, cerca de quatro meses em cada salão.
Luiza e Tetê têm famílias para sustentar. Ambas são responsáveis pela maior parte da renda familiar. A constante troca de local de trabalho é um problema na vida das duas. O setor de serviços, em que trabalham, tem índice de 37,7% de rotatividade, segundo a Relação Anual de Informações Sociais (Rais) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), atrás da construção civil, da agricultura e do comércio.
“Tenho medo de sair de casa de manhã e voltar à noite demitida porque o salão fechou ou porque alguma cliente não gostou do serviço”, disse Luiza.
De acordo com o psicólogo e professor na área de psicologia do trabalho e saúde do trabalhador da Universidade de Campinas (Unicamp), Roberto Heloani, a demissão é uma ameaça que ronda boa parte das categorias profissionais. Para ele, a falta de empregabilidade afeta trabalhadores de alta e de baixa qualificação.
“Esse medo de perder ou reter o emprego começa na própria busca. Ter [cursado] uma faculdade não é mais garantia. Há tempos atrás, uma pessoa de classe média fazia uma faculdade e tinha praticamente emprego garantido. Hoje, isso não ocorre mais. Corre-se o risco de ter feito uma universidade de primeira linha e ter dificuldade de encontrar até um estágio. A sensação de incerteza começa cedo”, informou Heloani.
Tetê, a manicure, explicou que, para tentar minimizar o risco de demissão, investiu em cursos na área de estética. “Aprendi também a fazer sobrancelhas e tratar de cabelos, como fazer hidratação e outros tipos de tratamento. Meu sonho é ter um dia a minha clínica de estética”, disse.
O professor Roberto Heloani alertou, no entanto, contra a busca incessante por capacitação, que nem sempre garante o retorno pretendido. Segundo ele, a atualização do empregado pode ajudar em certos momentos, mas não garante emprego e estabilidade que, em muitos casos, estão relacionados a fatores que não dependem do esforço do trabalhador – como a economia ou as finanças da empresa.
“A lógica de qualificação que temos hoje é idealizada. Se cobra tanto, se quer tanto, que é impossível o trabalhador cumprir todos os requisitos. A angústia acaba sendo um sentimento onipresente. Temos que desconstruir essa lógica. Muitos são demitidos porque são peças que não se encaixam mais em uma jogo altamente complexo”, explicou o professor.
Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que transtornos mentais são a maior causa de afastamento no trabalho na última década. Para Heloani, o próprio medo do desemprego acaba levando à demissão, gerando um paradoxo.
“Em primeiro lugar, o trabalhador não pode se culpar e acreditar que não consegue manter o emprego por alguma deficiência ou falta de dedicação. Há uma fortíssima tendência a fazer isso. Os danos psíquicos são muitos, o que engrossa essas estatísticas da OIT, em que boa parte dos casos, o transtorno mental é a depressão severa que acaba levando à incapacitação”, informou.
Edição: Davi Oliveira
Rotatividade do mercado de trabalho aumenta e preocupa governo
Trabalhador também se beneficia da rotatividade no emprego
Empresas precisam adotar políticas de retenção da mão de obra
OIT estima aumento do desemprego entre jovens nos próximos cinco anos
Pequenas empresas geraram quase 80% dos empregos de julho, segundo Sebrae