Flávia Villela
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – A bandeira olímpica que chegou há dois dias no Rio percorreu três regiões da cidade hoje (15). O local escolhido para apresentar o símbolo ao público foi a Praça do Conhecimento, na Comunidade Nova Brasília, no Complexo do Alemão, zona norte.
A celebração contou com a participação dos medalhistas olímpicos Esquiva e Yamaguchi Falcão, do gari Renato Sorriso (que participou da apresentação da cidade no encerramento das Olimpíadas de Londres), do presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, e do governador do estado, Sérgio Cabral.
O Complexo do Alemão foi ocupado há pouco mais de dois anos pelas Forças Armadas, após décadas de dominação por facções de tráfico de drogas. Hoje, suas 14 comunidades passam por um processo de reocupação do poder público. Depois da cerimônia, a bandeira foi levada para a Praça do Canhão, em Realengo. O cortejo ainda percorreu a zona sul e terminou no Palácio da Cidade, em Botafogo. Nos três lugares, foram hasteadas cópias.
Dono de um bar próximo ao local da cerimônia, Domingos Barbosa Oliveira não sabia que estava a poucos metros de onde a bandeira olímpica seria hasteada, mas comemorou a notícia. “É bacana. Sinal de que Nova Brasília está sendo reconhecida pelos governantes. Com isso, têm vindo alguns benefícios, mas ainda falta, né?” comentou ele.
Perguntado sobre o que poderia melhorar na comunidade, o comerciante de 50 anos de idade e há quase 40 anos vivendo no Complexo do Alemão hesitou, mas em seguida respondeu: “Segurança, principalmente, e saúde. Temos unidades de Pronto-Atendimento, mas às vezes faltam médicos e exames específicos. Depois de muitos anos sem o estado aqui, são muitas carências, então falta um apoio mais maciço. A segurança tem melhorado... mas aqui só Jesus mesmo. A comunidade não tem como cobrar”.
A Comunidade Nova Brasília é uma das sete comunidades no Rio que ganharam uma Unidade de Polícia Pacificadora. Aos poucos, recebe também equipamentos sociais como a Praça do Conhecimento, onde a bandeira foi hasteada. No local, um cinema em 3D e um edifício recém-construído que oferece cursos de capacitação em multimídia e ainda internet gratuita destoam do restante da favela, repleto de vielas, bueiros e casas pequenas, precariamente construídas.
Secretária do centro educacional e cultural da Praça do Conhecimento, a universitária Arlene Brito, 28 anos, acredita que a comunidade tem sim como cobrar por melhorias e mais segurança. “Agora, temos mais visibilidade, mais chances de sermos ouvidos, mais acesso a eles [governantes], que não têm mais como dizer que não sabiam. Na questão da segurança, apesar do aparato do Exército, falta certa constância e regularidade. Por exemplo, nesse final de semana, teve um evento na rua e depredaram um caixa eletrônico aqui na rua. Então na hora em que eles [policiais] não estão presentes, as coisas acontecem”, contou.
O secretário municipal de Habitação, Jorge Bittar, admitiu que as ações realizadas até o momento precisam ganhar capilaridade e chegar a um maior número de moradores. “Ainda temos muitas moradias precárias e insalubres, [é necessário] complementar investimentos em melhorias como abastecimento de água, rede de esgoto e reformas habitacionais. A próxima etapa do nosso trabalho é chegar a todos os cantos do [Complexo do] Alemão”, disse o secretário, que relacionou a segurança à qualidade de vida.
A costureira aposentada Dioneia Souza Archangelo esperava ansiosa pela bandeira. Mãe de cinco filhos e moradora de Nova Brasília há mais de 60 anos, ela teve a casa desapropriada para construção de uma creche, mas diz que está feliz com as mudanças e melhorias na comunidade e que a escolha do local para receber a bandeira olímpica simboliza o bom momento da região.
“Eu morava em uma casa enorme e agora moro em uma bem pequenina, mas fiquei maravilhada em saber que minha casa iria virar uma creche. Estou feliz, porque estou vendo as mudanças. Agora temos cinema, um prédio com cursos e computadores, obras acontecendo. Meu filho, que já é aposentado, vai começar uma aula de fotografia na semana que vem. Enfim, torço para não me arrepender de ter sido retirada da minha casa”.
Edição: Davi Oliveira