Fernando César Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Curitiba – O Brasil registrou ao longo do primeiro semestre deste ano pelo menos 27 mortes ocorridas durante assaltos a agências bancárias. Mais da metade desses casos se concentram nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, que, juntos, somam 14 vítimas, o equivalente a 51,8% do total.
Os dados fazem parte de uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Financeiro (Contraf) e pela Confederação Nacional dos Vigilantes (CNTV), em parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Baseada em notícias publicadas por meios de comunicação de todo o país, a pesquisa foi divulgada hoje em Curitiba.
"Os bancos investem na segurança das agências que atendem aos clientes com maior renda, onde o atendimento é feito em salas separadas", afirmou o presidente da Contraf, Carlos Cordeiro, em entrevista coletiva. "Os bancos deveriam ser responsabilizados por esses casos de violência."
De janeiro a junho, o estado de São Paulo teve seis mortes em assaltos a banco. Bahia e Rio de Janeiro, quatro cada. Três mortes ocorreram em Alagoas. No Ceará e em Pernambuco, duas. Outros cinco estados, além do Distrito Federal, registraram uma morte no período: Espírito Santo, Minas Gerais, Mato Grosso, Pará e Rio Grande do Sul.
Em relação ao primeiro semestre de 2011, quando morreram 23 pessoas, houve um aumento de 17,4% no total de casos. Ao longo de todo o ano de 2010, quando a pesquisa teve início, houve 23 mortes. "Esses números demonstram que há uma tendência de aumento da letalidade dos assaltos", observa José Boaventura Santos, presidente da CNTV.
Das 27 vítimas fatais deste ano, 15 eram clientes e cinco, vigilantes de bancos. Outros três eram policiais. Houveram também três mortes de transeuntes. Um bancário assassinado completa a lista.
Conforme dados do Dieese, os cinco maiores bancos gastaram em segurança e vigilância cerca de R$ 2,6 bilhões em 2011, o que equivale a 5,2% do lucro obtido por eles no período, que chegou a R$ 50,7 bilhões.
O crime conhecido como "saidinha de banco", no qual a vítima é monitorada desde quando ainda está dentro da agência, é o que mais causou mortes. Foram 14 no período analisado. "Os bancos não estão oferecendo condições para que os clientes façam as suas operações com segurança", avalia Santos.
As entidades sindicais defendem que a Lei Federal 7.102, em vigor desde 1983, seja atualizada. Entre as mudanças defendidas estão a obrigatoriedade de portas giratórias antes dos caixas eletrônicos, a instalação de câmeras de monitoramento internas e externas, a exigência de mais de um vigilante em cada agência e a instituição de punições mais duras aos bancos, em caso de descumprimento da legislação. "A lei atual é muito antiga, limita em 20 mil Ufirs [unidades fiscais de Referência] as multas, o que é muito pouco para quem lucra bilhões", diz Cordeiro.
Os sindicalistas propõem ainda medidas como a implantação de biombos entre os caixas e a fila de espera e de divisórias entre os caixas. Outra medida proposta é a isenção de tarifas das transferência de dinheiro entre bancos diferentes. "Defendemos a tarifa zero para as transferências de um banco para outro, porque, hoje, as pessoas preferem correr o risco de serem assaltadas do que pagar altas tarifas", diz o presidente da Contraf.
No próximo mês de agosto, as mesmas entidades devem divulgar uma nova pesquisa nacional, desta vez sobre o número total de ocorrências como assaltos e explosões de caixas eletrônicos.
Procurada pela Agência Brasil, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) se manifestou sobre a pesquisa por meio de uma nota assinada pela sua diretoria de comunicação. "A segurança dos seus funcionários e clientes é uma preocupação central dos bancos associados à Febraban", diz a nota, que aponta que as instituições bancárias seguem a legislação federal em vigor.
Segundo a Febraban, a quantidade de assaltos a bancos no Brasil caiu de 1.903, em 2000, para 422, em 2011. "Os investimentos em sistemas de segurança física e eletrônica vem possibilitando que o número de assaltos a banco, em todo o Brasil, venha caindo consistentemente ao longo dos anos."
A entidade afirma ainda que os bancos atuam em estreita parceria com governos, autoridades policiais e Poder Judiciário para combater os crimes e propor novos padrões de proteção.
Edição: Fábio Massalli