Chipp diz que país precisa compatibilizar cronograma de geração com transmissão de energia

07/07/2011 - 18h17

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – O Operador Nacional do Sistema (ONS) defendeu hoje (7) a necessidade de se compatibilizar a geração com a transmissão de energia no país. “A transmissão não pode continuar correndo atrás da geração, porque isso acarreta atrasos no prazo de entrega da energia”, disse o diretor-geral da ONS, Hermes Chipp, durante seminário técnico promovido pelo Grupo de Estudos do Setor Elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Gesel-UFRJ), que reuniu técnicos do Brasil e da estatal de energia portuguesa, a Energias de Portugal (EDP).

Chipp explicou que o descasamento entre a conclusão de construção de uma usina e a entrada em operação da linha de transmissão pode ser de até sete meses. Isso sem contar que, em alguns casos, a demora para a liberação do licenciamento para uma linha de transmissão pode levar até 17 meses. Ele ressaltou que não se tratava de uma crítica mas, sim, de uma preocupação do ONS que estava sendo colocada para discussão.

Segundo o diretor-geral do órgão, o atraso “é um risco que influencia o preço da energia”. O desafio, assegurou, é encontrar uma relação entre a capacidade de geração de energia contratada previamente e a pré-definição das conexões de áreas regionais para transmissão. “A gente tende a caminhar para um processo em que a geração fique mais agregada à transmissão”, declarou.

Chipp defendeu que sejam feitos leilões específicos por fontes energéticas, como a eólica, em caráter inclusive regional, alternando-se com leilões globais. Cada caso dependerá, entretanto, da análise prévia conjunta dos órgãos planejador, regulador e operador.

Para o diretor da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Amílcar Guerreiro, um dos participantes do debate, os leilões globais devem continuar e, caso haja necessidade, poderão ser efetuados leilões regionais. “Não sei se é o momento”, disse, mas ressaltou que essa repartição deve ser estudada com cuidado, porque “você tem o compromisso de buscar a competitividade para reduzir o custo”.

Segundo Guerreiro, as soluções devem priorizar a segurança energética e a modicidade tarifária. O diretor da EPE concordou que o grande desafio do setor eólico é a otimização entre a geração e a transmissão, buscando conciliar os leilões desses dois segmentos.

Levando em conta o crescimento estimado de 535% do setor eólico no Brasil, entre os anos de 2010 a 2015, Hermes Chipp destacou a necessidade de se desenvolver no país um sistema de previsão de potência, para garantir o suprimento de energia em fases de carga reduzida. O parque eólico brasileiro passará de 826 megawatts (MW) para 5,3 mil MW, ampliando a participação na matriz energética nacional de 0,8% no ano passado, para 3,8%, em 2015.

O diretor-geral do ONS disse ainda que esse sistema poderá se basear na experiência europeia e canadense, onde essa previsibilidade já é trabalhada, de forma a manter uma margem de segurança quando não ocorrem ventos. “A preocupação é dimensionar o backup, que é a reserva de potência”. Isso se faz a partir da utilização de reservas armazenadas de energia na forma hídrica ou térmica, como ocorre em Portugal, por exemplo.

A expansão prevista para o parque eólico do Brasil até 2020 é de 11,53 mil MW, o que equivaleria a mil MW por ano, disse Amílcar Guerreiro. Ele ressaltou a necessidade de aprimoramento de informações básicas para dar confiabilidade ao sistema, uma vez que outros fatores, como segurança energética, modicidade tarifária, tecnologia, eficiência e bem-estar social, são negociados entre governo, sociedade e empresas.

 

Edição: Aécio Amado