Desigualdade social ainda é problema a ser enfrentado pela China

30/09/2009 - 8h36

Tereza Cruvinel
Enviada Especial
Pequim (China) - A China cresce ecoleciona recordes, mas enfrenta enormes desafios internos. E o maiordeles é a redução das desigualdades sociais.Se em Pequim, Xangai,Nanjing e outras grandes cidades o consumo, as obras e o esplendorurbano sugerem um país de primeiro mundo, existe uma China profunda,em que sobrevivem o atraso, os velhos costumes e mesmo as edificaçõesdos anos 1950, velhos edifícios com esquadrias ameaçando cair.Os jornalistaslatino-americanos foram levados também a este outro lado da China,visitando a capital, Guiyang, e outras localidades da província deGuizhou, no Sudoeste do país.Nestes “burgospodres” da China, a renda per capita é muito inferior àdos grandes centros. O governo central faz agora um esforçouniformizador de desenvolvimento, direcionando investimentos eempréstimos para as regiões mais atrasadas.Isso é notável emGuiyang, onde prédios novos e modernos, alguns em construção,shoppings recém-inaugurados e obras viárias convivem comvelhos conjuntos habitacionais da era Mao, ou até de antes darevolução.Velhos hábitos, como ode vender comida à larga nas ruas, em grandes tendas próximas dosnovos shoppings, dão a Guiyang a estranha fisionomia de umacidade em plena mutação. De uma rua relativamente atraente,entra-se em uma transversal pontilhada por cortiços, os huotongs.Em Pequim, eles ainda existem, mas são murados e relativamenteurbanizados.O êxodo rural é umproblema. Os camponeses cada vez mais abandonam suas terras em buscade empregos nas cidades, em movimento parecido com o que o Brasilviveu nos anos 1970, e cujo resultado nós sabemos: cidades inchadas,com favelas e violência.Outros são obrigados adeixar suas terras, desapropriadas para obras de infraestrutura. Ogoverno os transfere para condomínios urbanos, onde ganhamapartamentos, que nunca sonharam ter, de até 160 metros quadrados,com pisos de porcelanato, toscamente decorados com floresartificiais, em um país que tem as mais belas flores do mundo. Asroupas secam nas janelas e varandas. Eles garantem estar muito bemassim, com seus novos empregos, frequentemente sazonais.Também em Guizhouvivem algumas das mais de 50 etnias minoritárias da China. Entreelas, predomina a etnia Han. Visitamos uma delas, o povo Miao, quevive em uma vila bastante medieval, dedicada ao artesanato e àagricultura de subsistência, divertindo-se com artes tradicionais,como o teatro de máscaras e danças típicas. Fomos recebidos comfesta e convidados a nos regalar com a comida típica e, sobretudo, abeber o Moutai, um destilado de arroz.A questão dos direitoshumanos é outro ponto sensível para os integrantes do governo. NoPlano Nacional de Direitos Humanos, há um capítulo para asminorias, com políticas especiais nas quais se destacam o direito ater até dois filhos (ficando a maioria Han condicionada a ter apenasum) e a implementação de políticas afirmativas, como a de cotaspara acesso à universidade.O êxodo urbano e adesigualdade de renda são problemas sensíveis, que podem, a médioou longo prazo, gerar um profundo ressentimento social. O governochinês tem clara noção disso, mas parece acreditar que seuplanejamento será mais eficaz, garantindo a mudança social e ainclusão no tempo certo e necessário.