António Lobo Antunes, um escritor angustiado

05/07/2009 - 10h15

Lísia Gusmão
Enviada especial da EBC
Paraty (RJ) - O português AntónioLobo Antunes declarou seu amor pelos livros e desabafou as angústiasde um escritor, emocionando o público que acompanhava o palcoprincipal da 7ª Festa Literária Internacional de Paraty (RJ) nanoite de sábado (4). Ele deixou de lado o caráter reservadoatribuído ao seu comportamento, evocou suas raízes brasileiras eexplicou porque já pensa em parar de escrever.“Há alturas que vocêfica desesperado, que você pensa que não vai mais ser capaz, que olivro não presta, que vai deixar de escrever. Ao mesmo tempo, é asua alegria, é a sua razão de viver. Você não consegue viver semescrever. Você não concebe a vida sem escrever”, afirmou, naconversa com o jornalista Humberto Werneck.Lobo Antunes é autorde 21 romances. Entre eles, o premiado O Meu Nome é Legião,sobre jovens da periferia de Lisboa. Na estreia, Memória deElefante, com relatos de sua experiência no exército portuguêsdurante a guerra em Angola.À vontade na mesaliterária Escrever é Preciso, ele disse que tem medo da escrita,que a considera “difícil”, e que escreve um livro para corrigiro anterior. “Ficamos sempre aquém do que gostaríamos. É afrustração de quem trabalha com as palavras.”Em sua fala, Antunessempre voltava à paixão pelas palavras. “O livro é como umaalmofada que você faz para colocar a cabeça antes de morrer.”Para ele, João Cabralde Melo Neto é o maior poeta do século 20, mas a poesia de FernandoPessoa não está entre as suas preferidas. E aconselhou: “Sealguém quer ser escritor tem que ver dez minutos de Mané Garrinchajogando bola. Não sai do corpo, sai da alma. Didi seria a cabeça eGarrincha, a mão. É a mão que escreve, mas a cabeça é quevigia.”Com fama de recluso,Antunes não vinha ao Brasil desde 1983, mas disse que não precisaestar aqui para senti-lo. “O Brasil são seus cheiros e sabores. Eisso está sempre comigo.”