Escritores protestam contra acordo ortográfico

03/07/2009 - 13h36

Lísia Gusmão
Enviada especial da EBC
Paraty (RJ) - Um antigo casarão deParaty foi palco na manhã de hoje (3) de um protesto contra o acordoassinado entre oito países de língua portuguesa para uniformizar aortografia. Os autores angolano Ondjaki e brasileiro Marcelino Freireacusaram o acordo de atender a interesses comerciais e chamaram aatenção para o impacto das novas regras para as próximas gerações.“Eu adotei o acordopara os textos que publico, mas o faço com profundo pesar. Trata-se deuma questão comercial”, disse Freire, autor de Balé Ralé.As reservas de Ondjakiquanto à implantação do acordo recaem sobre a educação infantil.“Como vamos educar, do ponto de vista da grafia, as próximasgerações? Qual é o plano para as crianças?”, questionou oangolano, que publicou Bom dia, camaradas.Os dois participaram damesa literária Acordo Ortográfico em questão, na Casa da Cultura,dentro da programação oficial da 7ª Festa Literária Internacionalde Paraty (Flip).Ondjaki queixou-seainda da falta de uma ampla consulta que referendasse o acordo. “Ospaíses não foram auscultados. Apenas um grupo de pessoas tomou adecisão. Não está claro que a maioria quer as mudanças. A decisãoveio de cima. Não pode ser uma decisão política. A línguapertence a todos”, afirmou, acrescentando que, em Angola, a adoçãodo acordo ortográfico foi “profundamente ignorada”.O angolano argumentouainda que uma das características mais marcantes da línguaportuguesa é a diversidade. “Não consigo ver a vantagem desteacordo se tanta gente gosta da diversidade”, afirmou. “Nãoexiste lusofonia. Existe a língua portuguesa. Ela sobrepôs o nossopassado histórico. Não ficou na memória que Angola exportouescravos. Não é disso que tratamos.”