Mariana aposta na tradição em campanha por reconhecimento de patrimônio

24/02/2009 - 9h41

Marco Antonio Soalheiro
Enviado Especial
Mariana (MG) - Até o fimdeste ano, a prefeitura de Mariana promete entregar àOrganização das Nações Unidas para aEducação, a Ciência e a Cultura (Unesco) umdossiê em que pedirá o reconhecimento da cidade maisantiga de Minas Gerais, fundada em 1696 e hoje com 55 mil habitantes,como patrimônio histórico e cultural da humanidade,título já obtido pela vizinha Ouro Preto. Prioridade pararealização de um carnaval tradicional no centrohistórico, com marchinhas, sambas antigos, alegoriasartesanais e envolvimento da comunidade, faz parte do projeto queserá apresentado à Unesco. Uma volta pelas ruas de Mariana nos dias de foliarevela um estilo de carnaval com diferenças sensíveisem relação ao de Ouro Preto. A festa é menosgrandiosa, movimenta menos dinheiro. As ruas, mais limpas, nãoficam como “formigueiros”, nem há multiplicidade de sonsmecânicos tocando os mais diferentes ritmos. Enquanto OuroPreto recebe 40 mil foliões por dia, em Mariana a expectativaé de que passem pela cidade 30 mil pessoas, somados osvisitantes de todos os dias do feriado. Axé, funk erock ficam em palcos específicos fora das ruas ondeestão os casarões que contam séculos dehistória. “A aura da cidade é muito voltada para acultura de raiz. E queremos colocar a cultura como uma necessidadeessencial do povo. O povo deve ter o direito e o dever de praticá-lacomo elemento de raiz e identificação”, afirmou àAgência Brasil o prefeito Roque Camêllo.Este ano a prefeitura resolveu acabar com umaboate de funk que, no carnaval passado, funcionava numestacionamento da praça da Catedral da Sé, uma dasigrejas mais ricas do Brasil, com várias peças de artebarroca . Saiu da praça o som tipicamente carioca e oestacionamento foi transformado em espaço de convivêncianos moldes do que fora no século 19. “Essa boate não agregava valor aocarnaval e acarretava problemas de segurança. Nãocompõe com o espírito de carnaval da família.Não sou especialista no assunto, mas é uma músicaque agita muito, mas não tem sensibilização dointerior”, justificou Camêllo. Ele ressaltou, porém,que não se trata de preconceito contra o funk, que poderáser tocado fora do centro por razões de “coerênciacultural”. Ainda dentro da campanha pró-reconhecimentoda Unesco, a prefeitura demoliu um ginásio poliesportivo quefora construído em frente à Estação deTrem, na qual chega a Maria Fumaça de Ouro Preto, para erguerno espaço um centro de convenções com aarquitetura de uma antiga fábrica de tecidos que láexistiu. A obra está em andamento. “O ginásio foi umerro do poder público, porque era agressivo ao ambientebarroco daquela região”, disse Camêllo. Mariana tem 13 igrejas ou capelas coloniais,museus de arte sacra e da música, este com partituras dosséculos 18 e 19. Continuam em atividade na cidade 13 bandasde músicas tradicionais, algumas com mais de 100 anos dehistória.O reconhecimento pretendido pela cidade aindadependerá da conclusão de obras de saneamento e de umcompromisso expresso dos governos federal, estadual e municipal com amanutenção do patrimônio histórico. Otítulo pode representar um reforço ao turismo local,ainda incipiente, com a conseqüente geração deemprego e renda.