Nações de maracatu abrem oficialmente festejos em Recife

21/02/2009 - 15h50

Juliana Cézar Nunes
Enviada Especial da Rádio Nacional
Recife - Ao som dos tamboresde 600 batuqueiros de 14 nações de maracatu, a capitalpernambucana abriu, na noite de ontem (20), o carnaval deste ano.Regidos pelo percussionista Naná Vasconcelos, os batuqueiroslembraram as culturas africana e afro-brasileira em uma apresentaçãono centro da cidade, no chamado Marco Zero, para uma platéiaestimada em cerca de 100 mil pessoas.Entre as naçõesde maracatu que participaram da abertura estava a Cambinda Estrela,da comunidade Chão de Estrelas, fundada em 1935. Osbatuqueiros da Cambinda Estrela usaram uma blusa com a frase RacismoNão. O mestre Ivaldo Marciano foi o regente do grupo.“Nósreivindicamos a continuidade da luta de Zumbi dos Palmares e achamosque a melhor maneira de fazer isso em uma cidade preconceituosa comoRecife é afirmando a festa e a luta. Não se pode lutarsem fazer festa, nem se pode festejar sem lutar.”Na platéiada abertura do carnaval de Recife, estavam os maracatus mais novos,como o Gavião Misterioso, criado há um ano nacomunidade Lagoa da Conquista, do Ibura de Baixo. José Marcus daSilva, que faz parte do grupo, conseguiu folga na usina de cana ondetrabalha e vestiu-se de caboclo de lança para brincar ocarnaval: “Nós somos do campo. Trabalhador rural, de mãocalejada. Nós trabalhamos pesado no campo e nos carnavais davida mostramos nossas fantasias.”A abertura do Carnaval deRecife também homenageou as mulheres do maracatu e do povonagô, prestando reverência à Dona Santa, rainha doMaracatu Elefante (criado em 1806), o mais antigo de Pernambuco, e àMãe Menininha do Gantois, babalorixá da Bahia, quemorreu em 1992.Elas foram homenageadas pelas sete mulheresque integram o grupo Vozes Nagô, que foi montado pela primeiravez e especialmente para a festa. Uma das cantoras, Maria da Paz,conta que esse trabalho surgiu da necessidade de fazer abertura, deconvidar artistas. “Mas que sejam cantadas coisas nossas, porpessoas que estão na nação o ano inteiro, nacomunidade, que estão acompanhando o maracatu”,ressaltou.A cultura africana dialogou com o frevo na aberturado carnaval de Recife. A Orquestra Bomba do Hemetérioacompanhou os batuqueiros do maracatu em composiçõescomo O Guarani, sob a regência do maestro de frevoForró. O maracatu e a orquestra de frevo tambémse misturaram com a música clássica na abertura docarnaval de Recife. O pianista Vitor Araújo, de 19 anos,dividiu espaço no palco com os batuqueiros e o cantor ecompositor Caetano Veloso. “Foi massa, porque é issoque faz da arte uma coisa sempre surpreendente. Você conseguirunir estéticas diferentes e funcionar. Você criar umaforma musical que faça a música andar sozinha e tomarsuas próprias decisões”, disse o músico.