Crise não afeta comércio popular em bairro paulistano

20/12/2008 - 10h15

Ivy Farias
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Faltando menos de uma semana para o Natal, ocomércio de atacado e varejo do Brás, regiãocentral da cidade, não sofre qualquer reflexo da crisefinanceira internacional. Segundo o diretor da Associaçãodos Lojistas do Brás (Alobrás), Jean Makdissi Júnior,com a crise, as pessoas estão evitando comprar bens de consumomais caros, como eletrônicos, e migrando para a indústriado vestuário, o que beneficia o comércio da região.De acordo com Makdissi, para 2008, a previsãode crescimento nas cerca de 6 mil lojas do Brás é de8%. Ele disse que o mês de dezembro divideopiniões entre os lojistas da região: "O movimentoapresentou diferenças entre um lojista e outro." Oscomerciantes Nancy e José Cortez, por exemplo, acham que estemês está seguindo a tendência fraca de 2008."Estamos sofrendo muito com os produtos importados da China",afirmou Nancy. No bairro há mais de 30 anos, o casaltrabalha com roupas femininas e reclama de queda no volume denegócios. "Nem os imigrantes ilegais abalaram tanto nossonegócio como os chineses. Antes, tínhamos 30 oficinasde costura, hoje temos apenas dez", disse José. Para Makdissi, os empresários que nãoinvestem no próprio negócio são os que mais sequeixam da concorrência: "Aqueles que não priorizamprodução diferenciada e estilo acabam ficando emsituação delicada, do ponto de vista competitivo,diante com o mercado irregular e o [produto] chinês.Quem investe em criação própria edesenvolvimento de produto está em posição maisprivilegiada que os demais."Na opinião de Deize Anseloni, gerente deuma loja de moda feminina na região, o movimento nesta épocado ano está bom, mas não como nos outros anos. "Em2006 foi excelente, 2007 foi ótimo e 2008 é apenasbom", ressaltou. Deize observou que as pessoas continuam andandona região, mas são mais seletivas na hora de comprar."O público do Brás, que é classe C e D, nãofoi afetado pela crise, mas noto que os consumidores estãopreocupados em pagar as contas, em não fazer dívidas."Pesquisando preços no Brás, aauxiliar de enfermagem Luciana Maria Santos mostrou-se preocupada como futuro: "A crise está vindo aí, não é?Por isso, estou de olho nas promoções." A gerenteDeize confirmou a tendência dos consumidores de buscar osprodutos que estão em liquidação. "Criamosmuitas promoções para atrair os clientes. Em algumasmercadorias, o desconto chega a 50%." No último mês do ano, a Alobrásespera receber cerca de 500 mil pessoas por dia, entre compradores epessoas que vão ao bairro para passear. A professora Maria doCarmo Barbosa Soares enquadra-se na última categoria: foi aoBrás apenas para passear. "Até agora, nãocomprei nada. Não sei se vou levar alguma coisa, porque ospreços não estão tão baixos",afirmou.