Reunião do Mercosul é marcada pela presença de Raúl Castro

16/12/2008 - 16h13

Mylena Fiori
Enviada Especial
Costa do Sauípe (BA) - Nareunião de cúpula do Mercosul, em que o Brasil encerroua presidência pro tempore, anovidade foi a presença do presidente de Cuba, RaúlCastro, em sua primeira viagem ao exterior desde que substituiuoficialmente o irmão, Fidel Castro, no comando da ilhacaribenha.Asestratégias para enfrentamento da crise financeirainternacional permearam as falas dos líderes do bloco e depaíses associados e convidados. O presidente da Venezuela, HugoChavez, não chegou a tempo de participar da reunião.RaúlCastro, em seu discurso, disse que Cuba acompanha de perto as açõesdesenvolvidas no âmbito do Mercosul, elogiou a prioridade aprogramas sociais e de infra-estrutura, a complementaçãoeconômicas e a redução das assimetrias. Comoobstáculo a tal processo de integração, Castrocitou os efeitos de uma ordem econômica internacional a qualchamou de “injusta e egoísta que favorece os paísesdesenvolvidos e os interesses das grandes corporaçõestransnacionais”. De acordo com o presidente cubano, “a crisefinanceira e econômica internacional é sua manifestaçãomais grave e concreta” dessa ordem econômica. Raúl Castro disseainda que a integração na América Latina esbarranas desigualdades no nível de desenvolvimento, nainfra-estrutura insuficiente, nas grandes injustiças sociais enas imensas disparidades de receita. Opresidente cubano aproveitou para comentar a importância daprimeira Cúpula da América Latina e Caribe para oDesenvolvimento e a Integração, que reúne hoje(16) pela primeira vez na história os 33 países daregião sem a presença de um poder externo, como osEstados Unidos ou a União Européia. “Mercosul,Alba [AlternativaBolivariana para as Américas],Caricom [Comunidadedo Caribe] e os demais esquemas de integração dispõem deuma experiência e autoridade merecidas, têm apossibilidade de servir de base e referência para tudo aquiloque possamos construir após esta cúpula se contarmoscom a vontade de seguir avançando e não nos limitarmosao prazer de termos nos reunido”, afirmou Raúl Castro. Ospresidentes da Bolívia, Evo Morales, do Equador, RafaelCorrea, e do Paraguai, Fernando Lugo – em sua primeira Cúpula– evitaram nas suas falas os temas polêmicos. Correa propôsa formulação de um arquitetura financeira regional quetorne o Sul menos vulneráveis às açõesdos países ricos. Lugo,por suas vez, primeiro prestou solidariedade ao povo de SantaCatarina, pela recente tragédia das chuvas. Depois, afirmouque o Mercosul vive um momento tão importante quanto o de suacriação, e defendeu o aprofundamento da integraçãocultural e maior ênfase à área social, “umrosto social muito mais nítido”, para que a integraçãopolítica se reflita da integração dos povos. Opresidente paraguaio também falou das dificuldades enfrentadaspelo seu país em consequência da crise financeirainternacional. “OParaguai está passando por um momento importante de sua vidahistórica, política, social e econômica e, maisque nunca, cremos e estamos convencidos de que o Mercosul e asolidariedade internacional nos ajudará a sairmos dessa criseglobal que também afeta os países pequenos”, disse.EvoMorales preferiu apenas agradecer aos países do bloco pelasflexibilidades oferecidas pelo Mercosul para facilitar exportaçõesde têxteis bolivianos, de forma a compensar a perda do mercadonorte-americano com o rompimento do Tratado de PreferênciasTarifárias Andinas e Erradicação de Drogas(Atpdea). O acordofoi aprovado ontem (15) pelo Conselho do Mercado Comum (CMC) .Segundo Evo, as preferências tarifárias permitiam àBolívia exportar US$ 21 milhões por ano aos EstadosUnidos em têxteis. O acordo com o Mercosul permitiráexportações de até US$ 30 milhões comtarifa zero. “Obrigadapresidente Lula e presidentes do Mercosul. Isso nos permite buscarmaior integração não somente dos povos, com ospresidentes à frente, mas também em termos de comércio,um comércio justo onde se resolvam os problemas econômicose sociais”, afirmou Morales. Participaramda Cúpula do Mercosul, além dos quatro sócios –Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai -, a Venezuela [país emestado de adesão, representado pelo vice-ministro da AméricaLatina, Francisco Árias Cardeñas] e os associadosEquador, Colômbia e Peru [estes dois representados por seus vice-presidentes]. Como paísesconvidados, participaram México, Panamá, Suriname eGuiana.