País quase não tem cultura voltada à inovação tecnológica, avalia ministro

19/11/2008 - 16h57

Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Poucoantes do lançamento oficial de uma chamada pública novalor de R$ 420 milhões para melhorias na infra-estruturafísica de unidades de pesquisas em universidades públicas, oministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, afirmou hoje(19) que o Brasil “quase não tem” uma cultura voltada paraa inovação tecnológica.

Ementrevista exclusiva à Agência Brasil e àTV Brasil, ele lembrou que o país começou aformar pesquisadores há 40 anos e que o ambiente de pesquisanas universidades ainda é novo. Apenas em 1968, segundo oministro, foram criado o regime de tempo integral, no qual, além de dar aulas, osprofessores desenvolvem pesquisas nas instituiçõesde ensino superior.Pelo menos 30% dos recursos previstos na chamada pública serão aplicados nasRegiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. De acordo com Rezende, o setor de ciência e de tecnologia se desenvolveu,inicialmente, nos estados do Sudeste, principalmente em SãoPaulo, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. Norte, Nordeste e Centro-Oeste começaram a formar grupos de pesquisa à medida que osistema se tornou competitivo.

“Em umambiente de competição sem nenhuma limitação,os grupos que têm mais experiência sempre acabam apresentandomelhores projetos e sendo beneficiados. Esses 30% estãomudando claramente a distribuição geográfica daciência no Brasil. Não estão fazendo diminuir acapacidade nem a captação de recursos dos estadosdesenvolvidos, mas permitindo que os grupos dessas três regiõespossam obter apoio. Precisamos de ciência e tecnologiadistribuídas em todo o território nacional”, disse Rezende.

Para oministro, a ausência de cultura voltada à inovaçãotecnológica é ainda mais nítida no setorempresarial brasileiro. Ele destacou a industrializaçãorecente no país, sobretudo em setores tradicionais, e o fato de que diversas empresas estrangeiras realizar pesquisa nas suas matrizes, matrizes e não no Brasil.

“Realmente,falta uma cultura. Mas isso está mudando rapidamente. Aexistência de recursos públicos para incentivar essaárea é muito importante. Em todos os paísesdesenvolvidos, foram os governos que incentivaram o desenvolvimento.A mudança cultural é sempre lenta porque envolvemudança de percepção, mas estáacontecendo no Brasil.”

Criado há cinco anos, oPrograma de Infra-Estrutura (Proinfra) é considerado por Rezende “responsável”pela recuperação da infra-estrutura de pesquisa nasuniversidades públicas do país. Atualmente, segundoele, já não há mais “aquela choradeira” dos pesquisadores por conta de falta de recursos.

“Naverdade, são dois editais juntos. Um, voltado para as sedesdas universidades no valor de R$ 360 milhões e outro voltadopara as novas extensões das universidades [no valor de R$60 milhões], para ampliar a distribuição dasuniversidades criando extensões universitárias em todoo interior do país”, explicou o ministro.

Odiferencial, de acordo com Rezende, está na comparação com o volume de recursos liberados em chamadas públicas anteriores. Nosdois primeiros anos, os editais foram de R$ 100 milhões e, nosdois anos seguintes, de R$ 150 milhões. Os valores, segundo ele,são capazes de fazer com que a comunidade científica e tecnológicatenha recursos e com que o sistema brasileiro seja maisprodutivo, voltado para a melhoria da competitividade das empresasnacionais.

Quemquiser se candidatar para as chamadas públicas deve apresentarprojetos com objetivos, metodologia, orçamento, e equipesresponsáveis pelas atividades de pesquisa. Rezende reforçouque é preciso contar com pessoas que demonstrem experiênciae que tenham titulação. O julgamento será feitopor comissões de pesquisadores. Os editais estãodisponíveis no site da Financiadora de Estudos e Projetos(Finep).