Câmara debate espetacularização da notícia no caso Eloá

11/11/2008 - 21h55

Kátia Buzar
Repórter da Agência Brasil
Brasília - As comissões de Defesa do Consumidor e de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados discutiram hoje (11) a "Espetacularização da Notícia",como está sendo chamado o excesso de participação da mídia em casos policiais. Durante a audiência, foram apresentados vídeos do caso da adolescente Eloá Pimentel, de 15 anos, seqüestrada e morta no mês passado em Santo André (SP) pelo ex-namorado, quando a polícia invadiu o apartamento onde eles estavam. Os vídeos mostraram claramente a interferência da mídia nas negociações, atrapalhando a ação da polícia,segunbdo o deputado Ivan Valente (P-SOL-SP). “Nós chamamos as emissoras porque tiveram claramente participação no desfecho trágico do caso Eloá; quebrou-se o código de ética e se extrapolou os limites em busca de audiência. A informação virou uma grande mercadoria que visa ao lucro. A espetacularização da notícia não contribui com o interesse público e com os direitos da cidadania”. Valente disse ainda que as emissoras deveriam reconhecer que existia uma psicopatologia grave e que a transformação do rapaz com transtornos mentais em celebridade, ao vivo, para milhões de pessoas, certamente inflamou a sua personalidade, dilatou o tempo de sequestro e contribuiu para o fim trágico. O promotor de Justiça Augusto Rossini, que acompanhou de perto as negociações, disse que a influência da mídia ficou clara neste episódio: “Fui chamado lá por exigência do próprio Lindemberg (o seqüestrador), que queria alguém ligado à justiça e aos direitos humanos para não sofrer retaliações, e ele só acreditou que eu era eu quando dei uma carteirada via TV”. Para o pesquisador sênior do núcleo de mídia da Universidade de Brasília (UNB) Venício Arthur de Lima é preciso haver o controle de conteúdo da programação: “A busca de audiência a qualquer custo não pode ser o único critério.Existe uma ambiência sócio-cultural da mídia de massa e o conteúdo da violência é cada vez maior pela ausência do controle do conteúdo da programação”. De acordo com o representante da TV Globo Evandro Guimarães, essa discussão é importante para que sejam evitadas tragédias como a de Santo André: “Sempre divulgamos todo e qualquer seqüestro, depois de estudo internacional, mas sempre zelando pela integridade das vítimas e não facilitando os objetivos do criminoso”. O deputado Ivan Valente reclamou da falta de divulgação do debate por parte das emissoras que estiveram na audiência. Segundo ele, “esse debate é uma crítica ao tipo de cobertura e de conteúdo que é vinculado na mídia. A idéia é que existe uma impunidade eminha proposta é que duas questões ganhem peso: controle social da mídia pelo Congresso Nacional e renovação das concessões a partir de um balanço de conteúdo".