Ex-guerrilheiro diz que as Farc vão 'desaparecer'

29/10/2008 - 16h28

BBC Brasil
Repórter da Agência Brasil
Brasília (Brasil) - BBC Brasil O ex-guerrilheiro Wilson Bueno Largo, conhecido como "Isaza" ou "Isaías", que fugiu com um seqüestrado das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) no último final de semana, afirmou nesta terça-feira que o grupo armado perdeu a orientação política e está a ponto de "desaparecer"."As Farc nesse momento são um grupo já muito reduzido, uma guerrilha sem orientação política, que vai desaparecer. São uns guerrilheiros sem moral e com uma decomposição interna", afirmou o ex-guerrilheiro, em entrevista coletiva concedida no ministério de Defesa colombiano."Isaza" escapou neste final de semana de um acampamento da guerrilha com o ex-congressista Óscar Tulio Lizcano, seqüestrado havia oito anos, e se entregou às autoridades colombianas.Em troca, o governo prometeu ao ex-guerrilheiro uma recompensa de cerca de US$ 420 mil, liberdade condicional e a possibilidade de asilo na França, cujo trâmite ainda está sendo avaliado pelo governo francês.O ex-guerrilheiro de 28 anos, combatente das FARC há 12 anos, disse ter perdido seu tempo na luta armada e pediu que seus companheiros abandonem as armas."De todo coração, digo que a desmobilização é o melhor caminho que qualquer guerrilheiro pode tomar. Dêem-se essa oportunidade de se reencontrarem com suas famílias, voltar à sociedade e voltar a viver", disse.Segundo dados do Ministério de Defesa, somente neste ano, 2.901 guerrilheiros se entregaram às autoridades colombianas, dos quais 63% pertenciam às FARC.Sobre o futuro, "Isaza" disse que ainda não sabe se viajará à França ou a outro país, "por questões de segurança", mas adiantou que pretende utilizar parte da recompensa prometida para comprar uma casa para sua família.Antes do asilo, o governo terá de solucionar a situação jurídica do ex-guerrilheiro. Ainda não está claro se a Justiça poderá anistiá-lo dos crimes de seqüestro e rebelião.Uma das possibilidades, de acordo com o procurador público Mario Iguaran, é que o ex-guerrilheiro tenha o benefício de redução da pena, mas ele não se livraria da prisão.Acordo humanitárioDepois de um período de silêncio, as Farc afirmaram, por meio de uma carta divulgada nesta terça-feira, que estão dispostas a reativar as negociações para um acordo humanitário e, para isso, solicitou o apoio da "grande maioria dos presidentes latino-americanos"."Nossa disposição em explorar possibilidades em busca de troca humanitária e da paz com justiça social – que é hoje o clamor e a necessidade mais urgente e sentida em toda a nação – continua invariável", afirma o comando central das Farc no comunicado.Com a fuga do ex-congressista Óscar Tulio Lizcano, ainda permanecem em poder das Farc 28 sequestrados considerados como moeda de troca em um eventual acordo para a libertação de rebeldes presos.No documento, as Farc afirmam que a carta é o começo do intercâmbio para iniciar a discussão de "uma saída política ao conflito, de acordo humanitário e paz".A carta foi dirigida à senadora de oposição Piedad Córdoba, ex-facilitadora do acordo humanitário, e a mais 150 intelectuais e políticos que em setembro enviaram um documento à guerrilha solicitando a reabertura do diálogo para a solução do conflito que já dura mais de meio século."Participaremos, em frente ao povo, de um diálogo com amplitude e franqueza, sem dogmatismos, sem sectarismos e sem desqualificações sobre os temas que sugerem", afirma o documento.O documento é datado no dia 16 de outubro, antes da fuga, neste fim de semana, do ex-congressista colombiano.A guerrilha não menciona na carta a exigência da desmilitarização de um território onde deveriam ocorrer as negociações com membros do governo.Esse era um dos obstáculos nas tentativas de diálogo anteriores, já que o governo de Álvaro Uribe se nega a conceder a retirada militar.Essa é a primeira vez desde julho, quando foi resgatada a ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt e mais 14 reféns, que a cúpula das Farc volta a mencionar um acordo humanitário.