A lição das urnas - Análise das eleições

27/10/2008 - 8h25

Helena Chagas
Da Agência Brasil
Brasília - Oeleitor tem, às vezes, razões que a própriarazão desconhece. Mas mais de duas décadasininterruptas de exercício do voto em regime plenamentedemocrático, entre outros fatores, parecem ter formado umeleitor mais pragmático, maduro e - por que não? –sábio. As urnas de 2008 mostram, em sua maioria, escolhasorientadas sobretudo pela racionalidade dos quesitos administrativos,deixando num segundo plano as paixões políticasconjunturais e imediatistas. É o que mostra, por exemplo, ofestival inédito de reeleições por todo oBrasil. Nas capitais onde os prefeitos atuais concorreram, apenasSerafim Corrêa não obteve do eleitor sinal verde paracontinuar à frente da prefeitura de Manaus.Arodada eleitoral teve muitos vencedores. A base governista, que ficoucom a maioria das prefeituras e reduziu espaços da oposiçãopelo país; o PMDB, que emplacou seis capitais, o maior númerode prefeitos e engordou consideravelmente seu cacife político;o governador José Serra, que com a eleição deGilberto Kassab se fortalece como candidato do PSDB em 2010; opresidente Lula, cujo apoio foi o sonho de consumo de candidatos degoverno e de oposição e que sai da campanha sem nenhumarranhão; o PT, que também fez seis prefeitos decapitais e aumentou seu espaço no grupo das 70 maiorescidades; a dupla Aécio Neves-Fernando Pimentel, que por pouconão viu sua aliança PSDB-PT fracassar em Belo Horizontee conseguiu virar o jogo no segundo turno...Masnão restam dúvidas de que o maior vitorioso de 2008 foio instituto da reeleição. A esta altura, sãocada vez mais rarefeitas as chances de aprovação dealguma das propostas que pretendem acabar com a reeleição– quase sempre apresentadas muito mais em função dequestões políticas e partidárias circunstanciaisdo que de um desejo sincero de aprimoramento institucional. Poisagora, com o instituto consolidado definitivamente nas basesmunicipais e o eleitor acostumado com ele, a operaçãovai ficar mais difícil ainda. Até mesmo o argumentomais do que razoável sobre o uso da máquina porcandidatos à reeleição, ainda que flagrante emalguns lugares, perdeu um pouco da força. Em 2008, boa partedas reeleições registradas, ao menos nas capitais, batecom boas avaliações anteriores das administraçõesdos reeleitos.Pareceestar se confirmando, de fato, aquela previsão de que omandato executivo, no Brasil, passou a ter oito anos, com direito auma revogatória no meio. Será isso tão ruimassim? Pelo jeito, o eleitorado não acha.Consciente ou não, a sabedoria política do eleitorse traduz no mapa político que emergiu das urnas. No cômputogeral, noves fora, fica claro que, embora demonstrando clarapreferência pelos candidatos governistas, o eleitorado nãocolocou todos os ovos no mesmo cesto. O PT, legenda de um presidenterecordista em popularidade, cresceu e obteve vitóriasimportantes em cidades médias e grandes. Em milhões devotos, é o segundo maior partido do país. Mas ficoulonge da hegemonia. No governo, terá que dividir a ribalta como PMDB, que agregou o Rio de Janeiro às capitais que jágovernava, ficou com o maior número de prefeituras e, emtermos partidários, sai como o maior vitorioso da eleição.Asoposições, por sua vez, devem governar cerca de 10milhões de eleitores a menos em relação a 2004.Mas, se PSDB e DEM minguaram no resto do país, ficaram com amaior das jóias da coroa: a prefeitura de São Paulo. Éa lição das urnas. O eleitor ensina, os políticosaprendem. Até o próximo teste, em 2010.