Organização indígena defende arrozeiros para garantir "progresso" à Raposa

26/08/2008 - 20h42

Luana Lourenço
Enviada Especial
Boa Vista (RR) - Para os indígenas ligados à Sociedade de Defesa dos Índios Unidos deRoraima (Sodiu-RR), a manutenção dos grandes produtores de arroz naTerra Indígena Raposa Serra do Sol vai impedir o isolamento dascomunidades e garantir progresso e desenvolvimento para a região. Combase nesse argumento, a entidade espera que o Supremo Tribunal Federal(STF) decida amanhã (27) pela ilegalidade da demarcação contínua. “A grande maioria dos moradores da Raposa quer o progresso. Quemquer voltar a viver isolado, como antigamente, andando de tanguinha,com cocar na cabeça? Isso está ultrapassado”, apontou um dosintegrantes do grupo, o macuxi Natal Altair. Ao contrário do Conselho Indígena de Roraima (CIR), a Sodiu apóia apermanência dos rizicultores na reserva e defende a demarcação da TerraIndígena em ilhas, e não de forma contínua. Altair nega a influência defazendeiros ou políticos. Segundo ele, a Sodiu tem uma “relaçãoharmônica” com os grandes produtores de arroz. Na tarde de hoje (26), por exemplo, o presidente da entidade, Sílvio da Silva,negociava com os arrozeiros um ônibuspara levar os indíos ligados ao grupo que querem acompanhar o julgamentodo STF ao distrito de Surumu – dentro da reserva –  área de maiortensão entre fazendeiros e indígenas favoráveis a demarcação contínua.“Defendemos a demarcação em ilhas porque resguarda direitos depessoas que estão lá há anos, com suas propriedades tituladas. Haverájustiça, porque permanecerão lá os não-índios que contribuíram pararesguardar a nossa soberania nacional. Essa miscigenação índio e não-índio não representa mal algum, pelo contrário, representa o que nósconsideramos progresso; nada puro, com homogeneidade é bom”, avaliouAltair. Moradora da Raposa Serra do Sol, a agricultora macuxi DeolindaPereira reclama que nas áreas da reserva em que os brancos não vivemmais, as estradas foram abandonadas. “A gente não quer ficar isolado.Queremos morar junto com todos os brasileiros. Quem defende a saída dosbrancos age morando na cidade, não sabe o sofrimento de quem vive naRaposa. Se as fazendas saírem vamos perder nossos empregos”, aponta.Altair fez duras críticas ao CIR, que, segundo ele, é influenciadopor interesses de organizações estrangeiras e questionou os númerosapresentados pelo conselho que apontam a existência de 18 mil indígenasna área. “Há manipulação, não é dado do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] nem de nenhuma fonte confiável.Há interesse do CIR de que eles tenham maioria a favor. Mas não têm. Agrande maioria na Raposa quer usufruir das vantagens que há na cidade,como internet e televisão, querem estar inseridos no processo dedesenvolvimento”, avaliou. Questionado sobre as acusações de degradação ambiental promovida pelosrizicultores na área, Altair disse que as críticas “são falácias”, cominteresse político. Ele ainda comparou a tensão na Raposa Serra do Solao recente conflito entre a Rússia e a Geórgia na região separatista daOssétia do Sul.“Tememos algo parecido aqui. Por isso torcemos para que oSTF decida pela descontinuidade da demarcação para que Raposa seja umsolo verde e amarelo, para que a gente possa exercer nosso direito deir e vir, sem obstáculos, sem barreiras do CIR. Estamos otimistas."