Relatório do Cenipa sobre acidente da Gol não tem prazo para ser concluído

09/08/2008 - 20h12

Wellton Máximo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O relatório do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) com as causas do acidente entre o Boeing da Gol e o jato Legacy ainda levará vários meses para ser concluído. A informação foi repassada por representantes do órgão, que se reuniram hoje (9) em Brasília com parentes dos 154 mortos no desastre, ocorrido em setembro de 2006.No encontro, que teve a participação do brigadeiro Jorge Kersul Filho, chefe do Cenipa, e o presidente da Comissão de Investigação de Acidente Aeronáutico, coronel Rufino Antonio da Silva Ferreira, os parentes cobraram a entrega do relatório. Em julho, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, havia dito que o documento ficaria pronto em 20 dias.Os oficiais do Cenipa informaram que, somente na última quinta-feira (7), o documento foi enviado aos Estados Unidos e ao Canadá para ser avaliado pela comissão que investiga o acidente no exterior. A resposta, de acordo com a legislação internacional, só virá em 60 dias. Após esse prazo, o relatório ainda precisa ser reavaliado pela Aeronáutica antes de ser divulgado, sem um prazo ainda definido.A presidente da Associação de Familiares e Amigos das Vítimas do Vôo 1907, Angelita de Marchi, considerou a reunião frustrante. “Eles mostraram os trabalhos realizados até agora, mas não apresentaram nenhuma nova informação que ajudasse a descobrir as causas do acidente”, criticou ela, após sair do encontro.O Cenipa não constatou problemas no projeto do jato Legacy que bateu no avião da Gol nem encontrou defeitos no transponder (equipamento que previne colisões). O órgão também afirmou não ter encontrado falhas na cobertura do radar nem nos equipamentos de comunicação e vigilância aérea. “Se não havia nada de errado, então por que houve o acidente?”, questionou Angelita.Quanto aos controladores de vôo, cuja atuação foi apontada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público como uma das causas do desastre, o Cenipa informou que a investigação não obteve avanços. Segundo o órgão, os profissionais que monitoravam o tráfego aéreo no dia do acidente foram orientados pelo advogado de defesa a não falarem.A Aeronáutica informou ainda que parte do atraso na conclusão do documento se deve à inclusão, em janeiro, dos esclarecimentos dos pilotos norte-americanos Jan Paul Paladino e Joseph Lepore, que conduziam o Legacy e negaram terem desligado o transponder acidentalmente. O procedimento adiou o fim da investigação por mais três meses.“Inicialmente nos haviam prometido a conclusão do documento para abril e que, dois meses depois, o relatório se tornaria público. Desde então, só temos enfrentado atrasos”, reclamou a presidente da associação dos parentes das vítimas.Insatisfeita com o andamento dos trabalhos do Cenipa, Angelita disse que famílias dos mortos agora pretendem recorrer ao Ministério Público e à Polícia Federal para buscar mais respostas e pressionar pela vinda dos pilotos norte-americanos ao Brasil. “Eles precisam depor no país, em vez de serem apenas ouvidos por carta”, argumentou.A Aeronáutica esclareceu que, na investigação do Cenipa, os pilotos foram ouvidos nos Estados Unidos, entre os dias 29 e 31 de janeiro. A associação de parentes defende que os condutores do Legacy sejam interrogados pessoalmente também no processo judicial.