Dificuldades financeiras diminuem vagas em clínicas de diálise

03/08/2008 - 10h26

Ana Luiza Zenker
Repórter da Agência Brasil
Brasília - As dificuldades enfrentadas pelas clínicas de diálise, que atendem a pacientes renais crônicos, já têm surtido efeitos negativos no crescimento do número de vagas para esse tipo de tratamento. É o que mostram os números da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN).De acordo com a entidade, até 2005, a quantidade de pacientes em diálise crescia 10% em média, mas nos últimos dois anos, o número aumentou somente 4%. “Isso significa que o número de vagas não é suficiente para abrigar a necessidade das pessoas”, afirma o presidente da SBN, Jocemir Lugon. “As pessoas chegam aos hospitais de emergência, entram lá, ficam fazendo diálise em condições precárias, com a mortalidade mais alta, e não conseguem vaga no sistema para diálise regular, programada”.Atualmente, segundo a SBN e a Associação Brasileira de Centros de Diálise e Transplante (ABCDT), cerca de 90% dos atendimentos de diálise são feitos em clínicas particulares conveniadas ao Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, as duas entidades afirmam que essas clínicas estão com o valor de honorários defasado e sofrem com os cortes e atrasos no repasse do pagamento.“A opção que existe é o Ministério [da Saúde] investir na terapia renal substitutiva da maneira como tem que ser investido; faz dois anos e meio que não há nenhum tipo de reajuste para hemodiálise, e para transplante faz oito anos que não há nenhum tipo de mudança na tabela”, afirma o presidente da ABCDT, Paulo Luconi.“Existe um problema de gestão [do sistema público de atendimento]; nós temos que repor a tabela urgentemente, não é 12% nem 15%, a reposição tem que ser superior a 20%, ou então reduzir a incidência tributária sobre as clínicas de diálise”, acrescenta Pedro Carvalho, dono de uma clínica em Piracicaba (SP).Ele relata que muitas vezes é necessário recorrer a empréstimos ou tirar dinheiro de outras fontes de recursos da clínica para cobrir as despesas, que não são completamente pagas pelo repasse do SUS. “O sistema em muitos casos acaba sendo financiado pelo prestador, sem dúvida nenhuma”.Ele diz que isso desestimula o surgimento de novos centros de tratamento, até porque o custo de instalação de um ponto para seis pacientes pode chegar a R$ 200 mil. Essa falta de novas clínicas também é observada pelo diretor regional da ABCDT no Rio de Janeiro, José Manuel dos Santos, há cerca de quatro anos. Segundo ele, muitas vezes a solução para os problemas financeiros das clínicas é o Programa de Recuperação Fiscal (Refis).“As unidades estão sobrevivendo porque simplesmente não estão pagando os impostos e podem refinanciar depois, porque a situação está muito difícil e, em continuando, vai cair a qualidade da diálise; ninguém consegue fazer milagre”, completa.