Comunidades vizinhas a locais do Pan reclamam de abandono

01/01/2008 - 15h52

Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Os dias de glóriapara duas comunidades cariocas se foram junto o encerramento dosJogos Pan-Americanos. Vizinhas a dois dos mais importantes locais dosjogos, a Vila Olímpica e o Estádio João Havelange, conhecido como Engenhão,seus moradores agora reclamam que estão esquecidos pelo poderpúblico e até pela mídia.Moradora da FavelaCanal do Anil, Ana Lúcia Neves olha da janela do seu barracode madeira a imponência dos edifícios da Vila do Pan, amenos de 100 metros de distância. Apesar da proximidade,ela diz que nada mudouem sua vida ou de qualquer outro morador da favela. O sonho deNeves é que a filha Laila, 12 anos de idade, consiga apoio para se dedicar ao futebol feminino, sua grande paixão.“Ela tem um currículo muito bom como jogadora, mas nãodá para levar até os lugares de treinamento, porque nãotem ninguém para patrocinar. A comunidade é muitopobre”.O presidenteda Associação dos Moradores do Canal do Anil, FranciscoAlberto dos Santos, cobra as promessas de melhorias feitas para acomunidade na época do Pan, que chegou a ser ameaçadade remoção pela prefeitura. Segundo ele, foi prometidoque a rua principal da favela seria asfaltada, o que nunca aconteceu.“O governo federal enviou dinheiro para a prefeitura pavimentar amarginal do Canal do Anil, mas não sabemos o queaconteceu. Hoje temos uma política que não évoltada para a comunidade carente, só para o interesse daespeculação imobiliária”.O Engenho de Dentro, às margens da Linha Amarela,via expressa que liga o centro e a zona norte à Barra daTijuca, ganhou o Estádio João Havelange, onde ocorreram as principais provas deatletismo e jogos de futebol. Mas, depois do fim do Pan, os moradoresreclamam que a vida piorou e que eles são proibidos de usar oestádio, agora arrendado para o Botafogo, como conta oaposentado Osemir Luis. “Antes tinha um campinho de futebol que agente podia usar. Acabaram com a nossa área de lazer”. Para o presidente daAssociação dos Moradores do Entorno do Engenhão,Anibal Antunes, o legado do Pan para a comunidade ficou abaixo dasexpectativas. Ele cobra do Comitê OlímpicoBrasileiro (COB) a construção de um centro detreinamento que deveria funcionar em dois galpões ao lado doEngenhão e atenderia os moradores da região,principalmente os jovens. “O legado não foi positivo. Nóstínhamos uma promessa de revitalização da nossaregião com mais lazer e segurança, e hoje a genteenxerga que esse estádio está se tornando um verdadeiroelefante branco, até porque não vieram os projetossociais que fariam parte do projeto”.Segundo o COB, oprojeto do centro de treinamento foi redimensionado e a estruturaserá construída em um outro bairro, pela falta deespaço no terreno ao lado do Engenhão. Mesmo assim, osecretário-geral do Comitê Organizador do Pan, CarlosRoberto Osório, garante que não está descartadaa idéia de que os galpões junto ao estádio sejamadaptados para abrigar projetos sociais ligados ao esporte, comohavia sido prometido aos moradores.