Ocupação de conjunto de favelas pela PM no Rio completa 30 dias sem prazo para acabar

31/05/2007 - 21h30

Luiza Bandeira
Da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A ocupação, pela Polícia Militar, do Complexo do Alemão – conjunto de favelas na zona Norte da cidade – completou 30 dias hoje (31), com um saldo de 17 pessoas mortas e cerca de 60 feridas por balas perdidas. Para Luiz Cláudio dos Santos, presidente da Associação de Moradores da Merendiba, uma das favelas do complexo, o cenário lembra o de uma guerra. Ele citou o lixo espalhado nas ruas, porque a Companhia de Limpeza Urbana (Comlurb) só faz a coleta nas partes baixas do morro. E a falta de energia elétrica em parte da comunidade, porque a rede foi danificada nos primeiros dias da ocupação.Os moradores, segundo Luiz Cláudio dos Santos, estão assustados pelas constantes trocas de tiros entre policiais e traficantes, que impedem os moradores de sair de casa e obrigam o comércio local a fechar mais cedo. A ameaça financeira, disse, atinge inclusive o serviço dos motociclistas, que têm poucos passageiros para levar à parte alta do morro. "Muitas pessoas dependem do movimento no Complexo para sobreviver. Tenho relatos de jovens que estavam envolvidos com o tráfico e que a família conseguiu tirar, comprando uma moto para que eles trabalhassem dignamente. Hoje eles estão impedidos de trabalhar", lamentou. O líder comunitário disse não ser contra a ação dos policiais, mas a forma como ela é executada. "Em algumas comunidades, não houve violência. O que não aceitamos é essa quantidade de pessoas inocentes atingidas. O governador diz que a ocupação será por tempo indeterminado, mas como ficam as vítimas, como ficam as crianças?", indagou. De acordo com a Secretaria Municipal de Educação, 4.836 crianças e adolescentes da região estão sem aulas – cinco escolas, um Centro Integrado de Educação Pública (Ciep) e três creches da rede pública estão fechados. Para o diretor do Sindicato dos Profissionais de Educação (Sepe), Danilo Serafim, o ano letivo das crianças já foi comprometido e não há como fazer a reposição do conteúdo com qualidade.Ele lembrou que as crianças sem aulas há 30 dias são exatamente as que mais precisam de educação, por viverem em áreas de risco. "Se não tem política pública para a maioria da população que está excluída, que não tem acesso à educação, saúde, emprego e qualidade de vida, esse problema [conflitos] tende a ampliar. E não acaba com tiroteio nem com repressão policial. Nós não achamos que a educação resolve tudo, mas ela pode mudar muitas coisas, e uma delas é a violência", explicou. O Complexo do Alemão tem 65 mil habitantes e reúne 13 favelas. As operações na região começaram no dia 2, depois que policiais militares foram mortos quando faziam patrulhamento no bairro de Oswaldo Cruz. Segundo a assessoria de comunicação da Polícia Militar, a intervenção só acabará quando os envolvidos na morte dos policiais e o chefe do tráfico local forem localizados. Moradores do Complexo reuniram-se hoje (31) no Centro Cultural da Vila Cruzeiro, no bairro da Penha, para discutir a situação com representantes da Igreja Católica, pastores evangélicos e comerciantes. No domingo (3), eles promoverão um ato pela paz na Igreja da Penha.