Professor considera desnecessária intervenção no mercado de combustíveis

21/02/2006 - 20h40

Rio, 21/2/2006 (Agência Brasil - ABr) - Na avaliação do professor Roberto Schaeffer, do Programa de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ (Coordenação de Programas de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro), o governo não deveria interferir em um mercado que vive um problema de entressafra. O álcool, lembrou, é uma commodity agrícola e tem os preços balizados pelo comportamento do mercado.

O professor se disse contrário a qualquer tipo de intervenção em um setor que se encontra em franca expansão no mundo e que vem despertando o interesse de diversos países, em função da vigência do Protocolo de Quioto. "Com o surgimento dos carros flex (movidos a álcool e gasolina), tem-se pela primeira vez a possibilidade da existência de um mercado realmente competitivo do ponto de vista do carro a álcool. A pessoa pode tomar a decisão de abastecer a álcool ou a gasolina", lembrou.

Para Schaeffer, o problema é de entressafra e somente o mercado poderá regular o setor – ainda assim, no momento adequado: "Neste momento, temos o preço do petróleo extremamente elevado e um mercado de açúcar extremamente interessante. Com a atratividade do mercado internacional do açúcar, o usineiro pode produzir um pouco mais de açúcar e um pouco menos de álcool. É o mercado. Por isto discordo da política do governo de querer tabelar o álcool. Se o preço sobe e o usuário do produto não está satisfeito, ele hoje tem a opção de mudar".

A alta no preço do álcool, de acordo com o especialista é até saudável, por atrair investimentos para o país. "É claramente um momento em que o mercado de álcool internacional está extremamente aquecido. Quer dizer, com a ratificação do protocolo de Quioto pela Rússia no ano passado, e a entrada em vigor deste protocolo em fevereiro de 2005, o fato é que hoje boa parte dos países está pensando seriamente em adicionar álcool à gasolina. Isso está elevando as exportações de álcool, que no ano passado já atingiram 3 bilhões de litros", informou.

O professor afirmou ainda não ver problema na variação de preço de um produto agrícola: "Isso vale para trigo, para café. Geada altera o preço de qualquer um dos dois. Qual é o problema?". E completou: "Esse tipo de intervenção no mercado é desnecessário, até porque estamos falando de um bem que é consumido para transporte pessoal de classe média. Uma coisa é o diesel, que tem impacto até sobre o transporte público. Outra é um combustível que é de classe média. De maneira nenhuma deveria ser prioridade do governo se preocupar com um mercado que funciona bem: o preço sobe e desce em todo o mundo e em nenhum lugar se tabela o produto".