HCE https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//taxonomy/term/179627/all pt-br Documentos sugerem que engenheiro foi torturado e morto no Hospital do Exército do Rio durante a ditadura https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//noticia/2013-12-05/documentos-sugerem-que-engenheiro-foi-torturado-e-morto-no-hospital-do-exercito-do-rio-durante-ditadu <p style="margin-bottom: 0cm">Vin&iacute;cius Lisboa<br /> <em>Rep&oacute;rter da Ag&ecirc;ncia Brasil</em></p> <p style="margin-bottom: 0cm">Rio de Janeiro- Parentes do engenheiro mec&acirc;nico Raul Amaro Nin Ferreira apresentaram hoje (5) na Comiss&atilde;o Estadual da Verdade do Rio de Janeiro (CEV-Rio) documentos sugerindo que ele pode ter sido interrogado e torturado em 11 de agosto de 1971, enquanto estava internado no Hospital Central do Ex&eacute;rcito (HCE), onde morreu, naquele mesmo dia, aos 27 anos.</p> <p style="margin-bottom: 0cm">Sobrinhos da v&iacute;tima mostraram um of&iacute;cio do ent&atilde;o comandante da 1&ordf; Regi&atilde;o do Ex&eacute;rcito, general Sylvio Frota, &agrave; dire&ccedil;&atilde;o do hospital, informando que dois agentes do Departamento de Ordem Pol&iacute;tica e Social (Dops) iriam ao hospital interrogar o engenheiro naquela data. Representante da linha dura, Sylvio Frota foi ministro do Ex&eacute;rcito durante o governo Ernesto Geisel (1974-1979), do qual foi demitido quando tentou ser o candidato &agrave; sucess&atilde;o do regime militar, contrariando a vontade do presidente.</p> <p style="margin-bottom: 0cm">No levantamento - produzido pelos irm&atilde;os Raul Nin Ferreira e Felipe Nin Ferreira em conjunto com o Armaz&eacute;m da Mem&oacute;ria e com o Grupo Tortura Nunca Mais de S&atilde;o Paulo - h&aacute; ainda um relato de interrogat&oacute;rio ocorrido entre os dias 4 e 11 de agosto, quando o engenheiro j&aacute; havia sido transferido para o hospital. O registro descreve o que foi abordado em uma das sess&otilde;es e ainda informa que &quot;n&atilde;o houve tempo para inquiri-lo sobre todo o material&quot;.</p> <p style="margin-bottom: 0cm">Ao entregar o relat&oacute;rio &agrave; Comiss&atilde;o da Verdade, a fam&iacute;lia pede que sejam confrontados por especialistas o laudo m&eacute;dico de entrada no hospital e o do legista que examinou seu cad&aacute;ver, para conferir se algum ferimento adicional aos descritos no primeiro documento aparece no segundo, o que indicaria que nesse interrogat&oacute;rio houve tortura. Tamb&eacute;m foi solicitado que sejam convocados para depoimento os servidores que trabalhavam&nbsp; no hospital, &agrave; &eacute;poca.</p> <p style="margin-bottom: 0cm">O jornalista &Aacute;lvaro Caldas, que representou o presidente da CEV-Rio, Wadih Damous, na apresenta&ccedil;&atilde;o, informou que ser&aacute; criado um grupo de trabalho para dar encaminhamento aos pedidos da fam&iacute;lia. &quot;Tortura dentro do Hospital do Ex&eacute;rcito seria algo in&eacute;dito&quot;, disse Caldas, que elogiou a iniciativa dos sobrinhos de Raul Amaro Nin Ferreira: &quot;&Eacute; excepcional estarmos recebendo esse trabalho. Isso mostra a import&acirc;ncia de o trabalho sair da comiss&atilde;o e ser feito por outras pessoas&quot;.</p> <p style="margin-bottom: 0cm">O relat&oacute;rio elaborado pelos sobrinhos do engenheiro desmente outros fatos que sustentaram as vers&otilde;es da &eacute;poca, como a de que o pai teria delatado o local onde Raul morava, a de que ele se feriu resistindo &agrave; pris&atilde;o e a de que era integrante de movimentos armados.</p> <p style="margin-bottom: 0cm">De acordo com os dados levantados, o engenheiro, que trabalhava no Minist&eacute;rio da Ind&uacute;stria e do Com&eacute;rcio, era amigo do ent&atilde;o militante Eduardo Lessa e ofereceu sua casa para guardar um mime&oacute;grafo que era usado pelo Movimento Revolucion&aacute;rio 8 de Outubro (MR-8). Nin Ferreira tamb&eacute;m ajudava Lessa financeiramente, porque o militante n&atilde;o conseguia trabalho devido &agrave; participa&ccedil;&atilde;o na luta armada.</p> <p style="margin-bottom: 0cm">Nos interrogat&oacute;rios a que foi submetido, o engenheiro foi questionado principalmente sobre sua rela&ccedil;&atilde;o com Lessa, o que ele acabou confessando apenas no &uacute;ltimo encontro com os agentes. Raul Amaro Nin Ferreira foi preso em 1&ordm; de agosto de 1971, e, em 4 de agosto, foi transferido para o hospital com ferimentos graves. Sua m&atilde;e, Marina Lanari Ferreira, iniciou uma batalha judicial contra o Estado que s&oacute; terminou em 1994, com a responsabiliza&ccedil;&atilde;o da Uni&atilde;o pela morte, tortura e pris&atilde;o do filho.</p> <p style="margin-bottom: 0cm">A pesquisa feita pelos sobrinhos de Raul tomou como ponto de partida o que j&aacute; havia sido levantado por Marina, contando depois com documentos do Arquivo Nacional, al&eacute;m de entrevistas com amigos e familiares. O relat&oacute;rio ser&aacute; disponibilizado gratuitamente nos pr&oacute;ximos dias, no <i>site</i> do Armaz&eacute;m da Mem&oacute;ria (<a href="http://www.armazemmemoria.com.br/" target="_blank">http://www.armazemmemoria.com.br/</a>).</p> <p style="margin-bottom: 0cm">&quot;Eu espero que esse trabalho ajude os movimentos sociais a refletir sobre a quest&atilde;o da viol&ecirc;ncia do Estado contra sua popula&ccedil;&atilde;o, e a n&atilde;o imaginar que foi s&oacute; uma coisa da ditadura nem s&oacute; contra presos pol&iacute;ticos. H&aacute; um hist&oacute;rico de viol&ecirc;ncia do Estado contra a sociedade desde que o Brasil &eacute; Brasil&quot;, lamentou o sobrinho Raul Nin Ferreira.</p> <p style="margin-bottom: 0cm"><i>Edi&ccedil;&atilde;o: Davi Oliveira</i></p> <p style="margin-bottom: 0cm"><em>Todo o conte&uacute;do deste site est&aacute; publicado sob a Licen&ccedil;a Creative Commons Atribui&ccedil;&atilde;o 3.0 Brasil. Para reproduzir as mat&eacute;rias, &eacute; necess&aacute;rio apenas dar cr&eacute;dito &agrave; </em><strong>Ag&ecirc;ncia Brasil</strong></p> Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro HCE Hospital Central do Exército investigação de parentes Nacional o que ocorreu Raul Amaro Nin Ferreira tortura Thu, 05 Dec 2013 19:26:33 +0000 davi.oliveira 735885 at https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/