Norte de Portugal https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//taxonomy/term/169291/all pt-br Especialista fala sobre a proximidade entre os idiomas português e galego https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//noticia/2013-07-26/especialista-fala-sobre-proximidade-entre-os-idiomas-portugues-e-galego <p> Gilberto Costa<br /> <em>Correspondente da Ag&ecirc;ncia Brasil/EBC</em></p> <p> Lisboa &ndash; Diferentes entidades pol&iacute;ticas, cient&iacute;ficas e da sociedade civil na Gal&iacute;cia &ndash; regi&atilde;o situada no Noroeste da Espanha e ao Norte de Portugal, t&ecirc;m h&aacute; alguns anos empreendido esfor&ccedil;os para manter o galego como o principal idioma daquela comunidade aut&ocirc;noma espanhola, face ao avan&ccedil;o do castelhano. O movimento envolve a compreens&atilde;o do galego como uma variante da l&iacute;ngua portuguesa e resgata as origens do idioma considerado lus&oacute;fono.</p> <p> Os brasileiros reconhecem a proximidade do galego e do portugu&ecirc;s. Ainda no ano de 1986, quando&nbsp; tiveram in&iacute;cio as discuss&otilde;es que antecederam o acordo ortogr&aacute;fico (1990), o ent&atilde;o secret&aacute;rio da Academia Brasileira de Letras (ABL), Ant&ocirc;nio Houaiss, convidou observadores galegos para o Encontro Internacional de Unifica&ccedil;&atilde;o Ortogr&aacute;fica da L&iacute;ngua Portuguesa do Rio de Janeiro.</p> <p> O interesse dos galegos pelo portugu&ecirc;s levou &agrave; cria&ccedil;&atilde;o, em 2008, da Academia Galega da L&iacute;ngua Portuguesa (AGLP). A entidade, de iniciativa privada, j&aacute; elaborou o L&eacute;xico da Gal&iacute;cia, integrado ao Vocabul&aacute;rio da L&iacute;ngua Portuguesa e pretende participar como observadora consultiva da Comunidade dos Pa&iacute;ses de L&iacute;ngua Portuguesa (CPLP) e do Instituto Internacional de L&iacute;ngua Portuguesa (IILP). A <strong>Ag&ecirc;ncia Brasil</strong> conversou sobre o assunto com o secret&aacute;rio da academia galega, &Acirc;ngelo Crist&oacute;v&atilde;o. A seguir, os principais trechos de entrevista.</p> <p> <strong>Ag&ecirc;ncia Brasil</strong> &ndash; Portugu&ecirc;s e galego s&atilde;o l&iacute;nguas diferentes? Considera que o galego ainda est&aacute; mais pr&oacute;ximo do portugu&ecirc;s do que do castelhano?<br /> <strong>&Acirc;ngelo Crist&oacute;v&atilde;o</strong> &ndash; Na Gal&iacute;cia, at&eacute; o fim da d&eacute;cada de 1970, existiu um consenso nesta mat&eacute;ria. Praticamente nenhum escritor, ningu&eacute;m no &acirc;mbito universit&aacute;rio, intelectual ou pol&iacute;tico galego questionava a unidade da l&iacute;ngua, mesmo que a escrita utilizada fosse uma vers&atilde;o mais ou menos castelhanizada. Foi na altura da instaura&ccedil;&atilde;o do sistema democr&aacute;tico espanhol que se produziu uma interven&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica na <em>questione della lingua</em>, aprovando o denominado &quot;Decreto Filgueira&quot; de castelhaniza&ccedil;&atilde;o do galego em 1982. Os sucessivos governos aut&ocirc;nomos aplicaram uma pol&iacute;tica anti-lus&oacute;fona na comunica&ccedil;&atilde;o social, na programa&ccedil;&atilde;o do ensino, nos concursos de m&eacute;ritos, na sele&ccedil;&atilde;o de docentes etc. Atualmente, essa pol&iacute;tica, essa atitude contra a l&iacute;ngua portuguesa est&aacute; desacreditada no plano intelectual e pol&iacute;tico. Os &uacute;ltimos movimentos do Parlamento Galego apontam para a unidade entre os grupos pol&iacute;ticos, numa virada de rumo que pretende reorientar a l&iacute;ngua em dire&ccedil;&atilde;o &agrave; integra&ccedil;&atilde;o na lusofonia. Foram 30 anos de isolacionismo e castelhaniza&ccedil;&atilde;o do galego.</p> <p> <strong>ABr</strong> &ndash; Quantas palavras h&aacute; em comum?<br /> <strong>&Acirc;ngelo Crist&oacute;v&atilde;o</strong> &ndash; O c&aacute;lculo quantitativo &eacute; vari&aacute;vel, depende de v&aacute;rios fatores. Na fala informal, as diferen&ccedil;as de uma cidade para outra ou de uma regi&atilde;o para outra s&atilde;o extremamente frequentes. Todos sabemos que no Brasil se diz &quot;&ocirc;nibus&quot;, enquanto em Portugal &eacute; &quot;autocarro&quot;, e ningu&eacute;m faz disso uma quest&atilde;o essencial. O <em>L&eacute;xico da Galiza</em> incorporado ao <em>Vocabul&aacute;rio Ortogr&aacute;fico,</em> da Porto Editora, em 2009, chegou a 800 palavras. Na segunda vers&atilde;o, introduzida no corretor ortogr&aacute;fico FLIP-8, o n&uacute;mero chegou a 1.200.</p> <p> <strong>ABr</strong> &ndash; Uma pessoa alfabetizada em galego consegue ler portugu&ecirc;s?<br /> <strong>&Acirc;ngelo Crist&oacute;v&atilde;o</strong> &ndash; Com certeza entende a l&iacute;ngua falada. Quanto &agrave; escrita, &eacute; uma quest&atilde;o de h&aacute;bito de leitura. Os alunos galegos que iniciam estudos de portugu&ecirc;s n&atilde;o come&ccedil;am no grau zero, como se fossem falantes de castelhano ou italiano. Entram diretamente no n&iacute;vel interm&eacute;dio e geralmente podem fazer satisfatoriamente um exame de portugu&ecirc;s, depois de alguns dias de pr&aacute;tica da ortografia comum.</p> <p> <strong>ABr</strong> &ndash; O <em>Vocabul&aacute;rio da L&iacute;ngua Portuguesa</em> j&aacute; incorpora o <em>Vocabul&aacute;rio de L&eacute;xico Galego</em>. O que mais &eacute; necess&aacute;rio fazer para atualizar o reconhecimento da proximidade entre o galego e o portugu&ecirc;s?<br /> <strong>&Acirc;ngelo Crist&oacute;v&atilde;o</strong> &ndash; Em termos pr&aacute;ticos, seguindo a l&oacute;gica, o pr&oacute;ximo passo deveria ser a integra&ccedil;&atilde;o do contributo lexical galego no <em>Vocabul&aacute;rio Ortogr&aacute;fico Comum</em>, em elabora&ccedil;&atilde;o sob a responsabilidade do Instituto Internacional da L&iacute;ngua Portuguesa.</p> <p> <strong>ABr</strong> &ndash; Haveria alguma vantagem lingu&iacute;stica para os galegos ao adotar o acordo ortogr&aacute;fico?<br /> <strong>&Acirc;ngelo Crist&oacute;v&atilde;o</strong> &ndash; &Eacute; claro para todos que a desagrega&ccedil;&atilde;o da l&iacute;ngua n&atilde;o favorece, enquanto a unidade refor&ccedil;a o conjunto, em termos de mercado editorial, de espa&ccedil;o de comunica&ccedil;&atilde;o e no plano econ&ocirc;mico, em geral. A ado&ccedil;&atilde;o do acordo ortogr&aacute;fico na Gal&iacute;cia &eacute; uma das possibilidades, mas ainda n&atilde;o h&aacute; condi&ccedil;&otilde;es para avan&ccedil;ar neste sentido. Antes ser&aacute; preciso dar outros passos.</p> <p> <strong>ABr</strong> &ndash; A aproxima&ccedil;&atilde;o do galego e do portugu&ecirc;s parece uma quest&atilde;o tamb&eacute;m de afirma&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica da comunidade aut&ocirc;noma dentro da Espanha. Essa vis&atilde;o est&aacute; correta? H&aacute; algum vi&eacute;s separatista no movimento reintegracionista?<br /> <strong>&Acirc;ngelo Crist&oacute;v&atilde;o</strong> &ndash; A ideia de o galego fazer parte do portugu&ecirc;s n&atilde;o &eacute; uma ideologia, pois &eacute; uma concep&ccedil;&atilde;o partilhada por todos os partidos pol&iacute;ticos galegos, por pessoas de todas as ideias. Existem organiza&ccedil;&otilde;es pol&iacute;ticas galegas que se declaram independentistas e reintegracionistas, o que em termos legais e morais &eacute; perfeitamente leg&iacute;timo. Como tamb&eacute;m h&aacute; organiza&ccedil;&otilde;es com ideias pol&iacute;ticas completamente diferentes e, no entanto, assumem a unidade da l&iacute;ngua.</p> <p> <strong>ABr</strong> &ndash; Porque, apesar da proximidade e do interesse, s&oacute; agora o parlamento galego vai aprovar mat&eacute;ria sobre as rela&ccedil;&otilde;es com a lusofonia?<br /> <strong>&Acirc;ngelo Crist&oacute;v&atilde;o</strong> &ndash; A resposta &eacute; dif&iacute;cil. H&aacute; ideias e movimentos culturais e sociais que precisam de maturidade, quer em termos internos, quer em rela&ccedil;&atilde;o aos condicionamentos sociais e pol&iacute;ticos. Podemos afirmar, sem medo de errar que atualmente existe na Gal&iacute;cia um sentimento e uma consci&ecirc;ncia c&iacute;vica de pertencimento &agrave; lusofonia nos setores mais ativos, mais influentes, que tamb&eacute;m est&aacute; em reflex&atilde;o no parlamento, em todos os grupos pol&iacute;ticos.</p> <p> Em parte, o que influencia &eacute; o fracasso dos planos do isolacionismo lingu&iacute;stico galego. O seu descr&eacute;dito intelectual &eacute; proporcional ao desprop&oacute;sito de construir uma l&iacute;ngua galega afastada do portugu&ecirc;s e, em grande medida, contra o portugu&ecirc;s, pela via de um separatismo artificial, conduzindo a comunidade lingu&iacute;stica a uma situa&ccedil;&atilde;o limite. Talvez tenha influenciado tamb&eacute;m o trabalho de relacionamento internacional da Academia Galega da L&iacute;ngua Portuguesa. Desde a sua cria&ccedil;&atilde;o, em 2008, demonstra que &eacute; poss&iacute;vel o reconhecimento da especificidade lingu&iacute;stica galega dentro do portugu&ecirc;s, o que chamamos de a &#39;norma galega do portugu&ecirc;s&#39;. Do nosso ponto de vista, &eacute; preciso conjugar a unidade e variedade da l&iacute;ngua, de modo que os falantes se reconhe&ccedil;am na norma culta, sem p&ocirc;r em quest&atilde;o o que &eacute; comum. A l&iacute;ngua tamb&eacute;m &eacute; nossa, mas n&atilde;o &eacute; s&oacute; nossa.</p> <p> <strong>ABr</strong> &ndash; A aproxima&ccedil;&atilde;o do galego e do portugu&ecirc;s teria algum benef&iacute;cio econ&ocirc;mico?<br /> <strong>&Acirc;ngelo Crist&oacute;v&atilde;o</strong> &ndash; O setor econ&ocirc;mico n&atilde;o &eacute; alheio a este movimento, a esta reorienta&ccedil;&atilde;o da quest&atilde;o da l&iacute;ngua em dire&ccedil;&atilde;o &agrave; lusofonia, pois a atual crise leva a considera&ccedil;&atilde;o de todos os fatores e recursos que podem ajudar a ultrapassar esta situa&ccedil;&atilde;o. Neste plano, portanto, as empresas valorizam hoje mais do que nunca a l&iacute;ngua como fator de desenvolvimento, vendo e valorizando o sentido instrumental, utilit&aacute;rio, do galego como variedade da l&iacute;ngua portuguesa que facilita o acesso ao mercado de 250 milh&otilde;es de falantes.<br /> &nbsp;</p> <p style="margin-bottom: 0cm"><em>Edi&ccedil;&atilde;o: Denise Griesinger</em></p> <p style="margin-bottom: 0cm"><em>Todo conte&uacute;do deste site est&aacute; publicado sob a Licen&ccedil;a Creative Commons Atribui&ccedil;&atilde;o 3.0 Brasil. Para reproduzir a mat&eacute;ria, &eacute; necess&aacute;rio apenas dar cr&eacute;dito &agrave; <strong>Ag&ecirc;ncia Brasil</strong></em></p> Academia Brasileira de Letras Encontro Internacional de Unificação Ortográfica da Língua Galícia idioma Internacional Noroeste da Espanha Norte de Portugal Fri, 26 Jul 2013 16:30:22 +0000 deniseg 726603 at https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/