Ministério Público Estadual de São Paulo https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//taxonomy/term/159122/all pt-br Reserva de vagas para dependentes prejudica atendimento a psicóticos, diz Ministério Público de São Paulo https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//noticia/2013-04-11/reserva-de-vagas-para-dependentes-prejudica-atendimento-psicoticos-diz-ministerio-publico-de-sao-paul <p> Camila Maciel<br /> <em>Rep&oacute;rter da Ag&ecirc;ncia Brasil</em></p> <p> S&atilde;o Paulo - Um campo de batalha. Foi assim que funcion&aacute;rios do Centro de Aten&ccedil;&atilde;o Integrada em Sa&uacute;de Mental (Caism) Philippe Pinel, ouvidos pelo Minist&eacute;rio P&uacute;blico do Estado de S&atilde;o Paulo, definiram a situa&ccedil;&atilde;o em que se encontra a unidade depois que eles passaram a receber dependentes qu&iacute;micos. O centro, que funcionava para atender espec&iacute;ficamente pessoas em surto psic&oacute;tico, passou a atender, desde janeiro, pacientes encaminhados pelo Centro de Refer&ecirc;ncia em &Aacute;lcool, Tabaco e outras Drogas (Cratod).</p> <p> &quot;Ocorreu o desmonte de um servi&ccedil;o de excel&ecirc;ncia no tratamento de psic&oacute;ticos agudos para que dependentes qu&iacute;micos fossem tratados de forma inadequada&quot;, disse o promotor Arthur Pinto Filho, da &aacute;rea de Sa&uacute;de P&uacute;blica. Essa situa&ccedil;&atilde;o &eacute; objeto de uma a&ccedil;&atilde;o, protocolada hoje (11) pelo Minist&eacute;rio P&uacute;blico de S&atilde;o Paulo (MP-SP), que pretende impedir que os leitos psiqui&aacute;tricos do Philippe Pinel sejam usados para o tratamento de dependentes qu&iacute;micos. Caso descumpra a medida, o governo paulista poder&aacute; ser multado em R$ 100 mil por dia.</p> <p> O procedimento de disponibilizar os leitos do Caism para o tratamento de dependentes qu&iacute;micos foi adotado depois do an&uacute;ncio do projeto do governo estadual que visa a agilizar a interna&ccedil;&atilde;o de dependentes qu&iacute;micos. Com apenas tr&ecirc;s dias do in&iacute;cio da a&ccedil;&atilde;o no Cratod, a procura pelo atendimento na unidade mais que dobrou, o que levou o estado paulista a ampliar o n&uacute;mero de leitos exclusivos para usu&aacute;rios de drogas. Na &eacute;poca, a Secretaria de Estado da Sa&uacute;de anunciou que o n&uacute;mero de leitos dispon&iacute;veis passaria de 691 para 757.</p> <p> &quot;O que est&aacute; sendo feito pelo governo do estado demonstra a inexist&ecirc;ncia dos 700 leitos. Esses leitos n&atilde;o est&atilde;o vazios. N&atilde;o h&aacute; vagas. Aquele afluxo ao Cratod gerou uma situa&ccedil;&atilde;o de p&acirc;nico. Diante dessa situa&ccedil;&atilde;o, houve a op&ccedil;&atilde;o pelo pior dos rumos, que foi derrubar aquilo que funcionava para criar aquilo que n&atilde;o funciona&quot;, criticou o promotor. Ele destacou que os funcion&aacute;rios foram surpreendidos pela medida em janeiro, tendo em vista que n&atilde;o t&ecirc;m especializa&ccedil;&atilde;o para lidar com esse tipo de atendimento.</p> <p> A promotora da &aacute;rea de inf&acirc;ncia e adolesc&ecirc;ncia, Luciana Bergamo, ouviu depoimentos de funcion&aacute;rios que relataram casos de viol&ecirc;ncia, inclusive f&iacute;sica, na unidade. &quot;De in&iacute;cio, os pacientes dependentes qu&iacute;micos passaram a conviver com pacientes psic&oacute;ticos, que t&ecirc;m manias, um comportamento pr&oacute;prio, e isso incomodou os dependentes. Os grupos entraram em atrito. Em seguida, a equipe tamb&eacute;m passou a ser agredida&quot;.</p> <p> &Agrave; medida que os pacientes com transtornos psiqui&aacute;tricos recebiam alta, somente eram admitidos usu&aacute;rios de droga. E novos problemas surgiram, segundo a investiga&ccedil;&atilde;o do MP-SP. &quot;A equipe do Caism come&ccedil;ou a identificar que a maior parte dos dependentes j&aacute; tinha passagem por estabelecimentos prisionais e come&ccedil;ou a transformar o Pinel em uma estrutura semelhante&quot;, relatou. Os pacientes da ala masculina, que tem capacidade para 30 pessoas, passaram a se organizar em guetos, inclusive com lideran&ccedil;as.</p> <p> O consumo de drogas tamb&eacute;m se tornou frequente entre os homens, tendo em vista que se trata de um centro aberto e os pacientes podem transitar livremente. &quot;Eles tomaram uma ala do hospital e passaram a fazer uso de drogas. Os profissionais n&atilde;o conseguem ter acesso a essa &aacute;rea. Eles n&atilde;o sabiam como intervir. Entraram em completo desespero&quot;, disse Bergamo. De acordo com a promotora, a &uacute;nica capacita&ccedil;&atilde;o recebida pelos funcion&aacute;rios do Caism foi para conten&ccedil;&atilde;o, o que ocorreu recentemente.</p> <p> Para os promotores, o tratamento recebido pelos dependentes qu&iacute;micos na unidade &eacute; deficit&aacute;rio. &quot;Eles foram simplesmente depositados, porque n&atilde;o era essa a especialidade do hospital. Essas pessoas foram levadas para l&aacute; para preencher uma estat&iacute;stica&rdquo;, relatou o promotor Maur&iacute;cio Ribeiro Lopes, da &aacute;rea de habita&ccedil;&atilde;o e urbanismo, que tamb&eacute;m participou das investiga&ccedil;&otilde;es.</p> <p> Segundo ele, um adolescente contou que estava no hospital simplesmente para receber um banho, passar 30 dias e voltar para a rua na mesma condi&ccedil;&atilde;o. &ldquo;Tudo que era poss&iacute;vel oferecer a adultos e adolescentes era abstin&ecirc;ncia e televis&atilde;o, sendo que abstin&ecirc;ncia mais ou menos, porque entrava droga&quot;, disse.</p> <p> Sobre os pacientes com surto psic&oacute;tico que deveriam estar sendo atendidos no Caism, os promotores informaram que pelo menos parte deles est&aacute; sendo levada para o Pronto-Socorro da Barra Funda. O promotor informou que um inqu&eacute;rito espec&iacute;fico sobre essa quest&atilde;o deve ser aberto.</p> <p> O minist&eacute;rio p&uacute;blico tamb&eacute;m vai apurar se outras unidades de sa&uacute;de de S&atilde;o Paulo tamb&eacute;m est&atilde;o passando pelo mesmo problema. &quot;N&oacute;s temos equipes t&eacute;cnicas que j&aacute; est&atilde;o fazendo visitas a outros locais para onde supostamente est&atilde;o sendo encaminhados os dependentes qu&iacute;micos oriundos do Cratod. N&oacute;s temos at&eacute; dificuldade de obter esse tipo de informa&ccedil;&atilde;o, porque algumas fichas que nos foram enviadas de l&aacute; est&atilde;o escritas a l&aacute;pis, &agrave;s vezes de forma ileg&iacute;vel&quot;, informou Bergamo.</p> <p> Na Baixada Santista, casos de reservas de vagas para dependentes qu&iacute;micos em leitos psiqui&aacute;tricos tamb&eacute;m foram relatados pela promotora de Justi&ccedil;a de Itanha&eacute;m, &Eacute;rika Pucci. &quot;Instaurei um procedimento administrativo para conseguir vaga para um paciente em estado grave, mas mesmo assim a vaga n&atilde;o foi cedida. Recebemos den&uacute;ncias do bloqueio de vagas. Instaurei um inqu&eacute;rito civil para apurar se essa quest&atilde;o estava acontecendo e se o crit&eacute;rio de classifica&ccedil;&atilde;o de urg&ecirc;ncia estaria sendo violado&quot;, apontou.</p> <p> A <a href="http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-04-11/secretaria-nega-que-internacao-de-usuarios-de-crack-prejudique-rede-psiquiatrica-em-sao-paulo">Secretaria de Sa&uacute;de de S&atilde;o Paulo</a> negou que a interna&ccedil;&atilde;o de dependentes qu&iacute;micos esteja prejudicando o atendimento a pacientes psic&oacute;ticos.</p> <p> <em>Edi&ccedil;&atilde;o: Tereza Barbosa</em></p> <p> <em>Todo o conte&uacute;do deste site est&aacute; publicado sob a Licen&ccedil;a Creative Commons Atribui&ccedil;&atilde;o 3.0 Brasil. Para reproduzir as mat&eacute;rias &eacute; necess&aacute;rio apenas dar cr&eacute;dito &agrave; <strong>Ag&ecirc;ncia Brasil</strong></em></p> Centro de Atenção Integrada em Saúde Mental (Caism) Philippe Pinel Cratod Ministério Público Estadual de São Paulo Saúde Thu, 11 Apr 2013 21:00:04 +0000 tbarbosa 718188 at https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/