advogados prestarem assistência jurídica gratuita https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//taxonomy/term/154671/all pt-br Audiência discute resolução da OAB paulista que impede advogados de prestar assistência jurídica gratuita https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//noticia/2013-02-22/audiencia-discute-resolucao-da-oab-paulista-que-impede-advogados-de-prestar-assistencia-juridica-grat <p> Elaine Patricia Cruz<br /> <em>Rep&oacute;rter da Ag&ecirc;ncia Brasil</em></p> <p> S&atilde;o Paulo &ndash; O Minist&eacute;rio P&uacute;blico Federal (MPF) promoveu na tarde de hoje (22), em S&atilde;o Paulo, uma audi&ecirc;ncia p&uacute;blica para discutir uma resolu&ccedil;&atilde;o da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional S&atilde;o Paulo (OAB-SP), de agosto de 2002, que pro&iacute;be advogados de prestar assist&ecirc;ncia jur&iacute;dica e judici&aacute;ria gratuita (advocacia <em>pro bono</em>) a pessoas f&iacute;sicas. Estudantes, entidades, &oacute;rg&atilde;os p&uacute;blicos, advogados, ministros e professores participaram da audi&ecirc;ncia p&uacute;blica, mas a OAB-SP n&atilde;o mandou nenhum representante.</p> <p> Segundo Jefferson Aparecido Dias, procurador regional dos Direitos do Cidad&atilde;o de S&atilde;o Paulo, o tema come&ccedil;ou a ser discutido principalmente a partir de 2012, ap&oacute;s um advogado ter apresentado uma representa&ccedil;&atilde;o contra a OAB-SP por ter sido punido pela entidade ao fazer advocacia <em>pro bono</em>.</p> <p> &ldquo;Temos um procedimento administrativo que foi instaurado no come&ccedil;o de 2012 em que um advogado questiona essa restri&ccedil;&atilde;o &agrave; advocacia <em>pro bono</em>. A partir daquela data foi instaurado um inqu&eacute;rito e buscamos informa&ccedil;&otilde;es na OAB e, infelizmente, a posi&ccedil;&atilde;o que recebemos n&atilde;o foi das melhores, sendo ela contr&aacute;ria &agrave; advocacia <em>pro bono</em>. Optamos ent&atilde;o em fazer uma audi&ecirc;ncia p&uacute;blica para colher elementos para avan&ccedil;ar no debate&rdquo;, disse o procurador.</p> <p> A inten&ccedil;&atilde;o de se fazer uma audi&ecirc;ncia p&uacute;blica, disse o procurador da Rep&uacute;blica, &eacute; tentar analisar se h&aacute; alguma ilegalidade na resolu&ccedil;&atilde;o da OAB-SP. &ldquo;Essa &eacute; a discuss&atilde;o, j&aacute; que &eacute; um ato exclusivo de S&atilde;o Paulo que, no nosso entendimento, n&atilde;o tem fundamento na lei. Mas neste momento estamos em negocia&ccedil;&atilde;o com a OAB-SP, buscando a revoga&ccedil;&atilde;o da resolu&ccedil;&atilde;o ou, se for para regul&aacute;-la, n&atilde;o restringindo [a atua&ccedil;&atilde;o dos advogados <em>pro bono</em>]. Se a lei n&atilde;o restringe, entendemos que a resolu&ccedil;&atilde;o n&atilde;o pode restringir&rdquo;, disse Dias.</p> <p> Tanto o procurador quanto o diretor do Instituto Pro Bono, Marcos Fuchs, acreditam que um di&aacute;logo com a OAB-SP, que deve ocorrer nos pr&oacute;ximos dias, pode resolver a quest&atilde;o. Caso a OAB-SP mantenha a resolu&ccedil;&atilde;o, o procurador diz que o MPF pode vir a propor uma a&ccedil;&atilde;o civil p&uacute;blica ou uma a&ccedil;&atilde;o direta de inconstitucionalidade para questionar a medida.</p> <p> A norma estabelecida pela OAB-SP, explicou o diretor do Instituto Pro Bono, prev&ecirc; que a advocacia <em>pro bono </em>s&oacute; pode ser exercida por advogados para entidades do terceiro setor, o que exclui as pessoas f&iacute;sicas. O Instituto Pro Bono, organiza&ccedil;&atilde;o sem fins lucrativos criada em 2001, &eacute; contr&aacute;rio &agrave; resolu&ccedil;&atilde;o da OAB paulista e defende a advocacia <em>pro bono </em>tamb&eacute;m para pessoas f&iacute;sicas. &ldquo;Vivemos num pa&iacute;s miser&aacute;vel, onde n&atilde;o existe assist&ecirc;ncia judici&aacute;ria suficiente, sem Defensoria P&uacute;blica suficiente e se precisa de advogados pro bono e volunt&aacute;rios para atender a essa demanda&rdquo;, disse Fuchs.</p> <p> O Artigo 3&ordm; da resolu&ccedil;&atilde;o, que foi assinada em 19 de agosto de 2012 pelo ent&atilde;o presidente da OAB-SP, Carlos Miguel Aidar, prev&ecirc; que os &ldquo;advogados e as sociedades de advogados que desempenharem atividades <em>pro bono </em>para as entidades benefici&aacute;rias definidas no Artigo 2&ordm;, est&atilde;o impedidos, pelo prazo de dois anos, contados da &uacute;ltima presta&ccedil;&atilde;o de servi&ccedil;o, da pr&aacute;tica de advocacia, em qualquer esfera&rdquo;.</p> <p> Presente &agrave; audi&ecirc;ncia p&uacute;blica, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes preferiu n&atilde;o emitir ju&iacute;zo sobre a legalidade ou ilegalidade da resolu&ccedil;&atilde;o da OAB-SP, mas ressaltou que deve ser feito &ldquo;um grande esfor&ccedil;o para quebrar esse tipo de preconceito&rdquo;. &ldquo;Imaginem se pud&eacute;ssemos ter um advogado em cada pres&iacute;dio desse pa&iacute;s. Mudar&iacute;amos o quadro de tortura, de abusos e de pris&otilde;es provis&oacute;rias que s&atilde;o dispens&aacute;veis. Isso n&atilde;o &eacute; imposs&iacute;vel de se fazer, considerando-se o n&uacute;mero de advogados de que dispomos&rdquo;, disse o ministro.</p> <p> Mendes admitiu que, na atualidade, o pa&iacute;s tem car&ecirc;ncia em rela&ccedil;&atilde;o &agrave; advocacia <em>pro bono</em>, que &eacute; destinada principalmente para as pessoas que precisam recorrer &agrave; Justi&ccedil;a, mas n&atilde;o t&ecirc;m condi&ccedil;&otilde;es financeiras para fazer uso dela. &ldquo;Certamente temos iniciativas isoladas, temos um ou outro instituto e temos tamb&eacute;m essas incompreens&otilde;es por parte de setores da OAB e tamb&eacute;m da pr&oacute;pria Defensoria P&uacute;blica, que acabam atrapalhando esse desenvolvimento. No Conselho Nacional de Justi&ccedil;a [CNJ] estimulamos os tribunais a facilitar a instala&ccedil;&atilde;o da advocacia volunt&aacute;ria ou solid&aacute;ria para que possamos atender a esses carentes. Mas temos essa massa de casos, essa judicializa&ccedil;&atilde;o imensa,esse n&uacute;mero imenso de presos e temos insufici&ecirc;ncia no que diz respeito ao acesso &agrave; Justi&ccedil;a e ao atendimento dessas pessoas&rdquo;, disse o ministro.</p> <p> Segundo o ministro, uma das formas de corrigir esse problema &eacute; por meio de &ldquo;iniciativas complementares&rdquo;, pensando-se, por exemplo, em resid&ecirc;ncia jur&iacute;dica, tal como existe a resid&ecirc;ncia m&eacute;dica, obrigando os advogados ou futuros advogados &ldquo;a dar um pouco de seu tempo para esse tipo de atividade&rdquo;.</p> <p> Para o ex-ministro e advogado Jos&eacute; Carlos Dias, tamb&eacute;m presente &agrave; audi&ecirc;ncia, a resolu&ccedil;&atilde;o da OAB-SP &ldquo;&eacute; uma viol&ecirc;ncia aos direitos de defesa e &agrave; liberdade do advogado&rdquo; e tamb&eacute;m &agrave;s pessoas mais carentes, que &ldquo;tem expectativa de ter alcance &agrave; Justi&ccedil;a e que a ela n&atilde;o pode chegar&rdquo;. &ldquo;A OAB, impedindo ou proibindo a advocacia solid&aacute;ria, est&aacute; praticando um ato de viol&ecirc;ncia&rdquo;, disse.</p> <p> O ex-ministro, que advoga h&aacute; 50 anos, disse que pretende continuar praticando a advocacia <em>pro bono</em>, como sempre fez, inclusive durante a ditadura militar, quando defendeu presos pol&iacute;ticos que n&atilde;o podiam pagar seus honor&aacute;rios. &ldquo;Ningu&eacute;m pode me impedir de trabalhar. E ningu&eacute;m pode exigir que eu receba pelo meu trabalho&rdquo;, disse,&nbsp; defendendo o que chama de &ldquo;desobedi&ecirc;ncia civil&rdquo; &agrave; resolu&ccedil;&atilde;o da OAB. Para ele, a quest&atilde;o sobre a legalidade ou ilegalidade da norma paulista pode at&eacute; vir a ser discutida e julgada no STF.</p> <p> Ausente da audi&ecirc;ncia p&uacute;blica, a OAB-SP informou &agrave; <strong>Ag&ecirc;ncia Brasil</strong>, por meio de nota assinada por seu presidente Marcos da Costa, que o debate sobre a resolu&ccedil;&atilde;o paulista, por se tratar de tema afeto &agrave; regula&ccedil;&atilde;o profissional, &eacute; da compet&ecirc;ncia do Conselho Federal da OAB. &ldquo;Assumimos a presid&ecirc;ncia da OAB-SP h&aacute; menos de dois meses e reconhecemos que o <em>pro bono </em>&eacute; um tema importante e estamos dispostos a dialogar com todos os atores, de forma transparente e democr&aacute;tica, at&eacute; para extrair uma posi&ccedil;&atilde;o a ser encaminhada ao Conselho Federal da OAB&rdquo;, disse ele.</p> <p> <em>Edi&ccedil;&atilde;o: F&aacute;bio Massalli</em></p> <p> <em>Todo o conte&uacute;do deste site est&aacute; publicado sob a Licen&ccedil;a Creative Commons Atribui&ccedil;&atilde;o 3.0 Brasil. Para reproduzir as mat&eacute;rias &eacute; necess&aacute;rio apenas dar cr&eacute;dito &agrave; <strong>Ag&ecirc;ncia Brasil</strong></em></p> advogados advogados prestarem assistência jurídica gratuita assistência jurídica gratuita Justiça MPF OAB OAB Paulista OAB-SP Sat, 23 Feb 2013 01:37:18 +0000 fabio.massalli 714499 at https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/