Natura https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//taxonomy/term/149223/all pt-br Fórum discute relação entre empresas e comunidades extrativistas da Amazônia https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//noticia/2012-12-07/forum-discute-relacao-entre-empresas-e-comunidades-extrativistas-da-amazonia <p> Carolina Gon&ccedil;alves*<br /> <em>Rep&oacute;rter da Ag&ecirc;ncia Brasil</em><br /> &nbsp;<br /> Bel&eacute;m &ndash; Os n&uacute;meros deveriam encher os olhos de qualquer economista. O valor econ&ocirc;mico das florestas do mundo contribui com uma cifra equivalente a US$ 4,7 trilh&otilde;es, segundo os c&aacute;lculos divulgados pelo gerente executivo do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, Caio Magri. Ele alerta, no entanto, que a incapacidade dos governos de proteger, conservar e promover o uso sustent&aacute;vel dos recursos da floresta quase elimina as oportunidades de lucro.</p> <p> O assunto &eacute; um dos temas em discuss&atilde;o no 6&deg; Encontro do F&oacute;rum Amaz&ocirc;nia Sustent&aacute;vel, termina hoje (7) em Bel&eacute;m. Ainda que reconhe&ccedil;am os avan&ccedil;os na redu&ccedil;&atilde;o do desmatamento, observadores chamam aten&ccedil;&atilde;o para a falta de alternativa dos povos que vivem nas florestas, mas de produtos n&atilde;o madeireiros, como a pesca e a extra&ccedil;&atilde;o de frutos, sementes, &oacute;leos e resinas. Em pleno Par&aacute;, estado apontado como um dos maiores desmatadores do pa&iacute;s, comunidades tradicionais que dependem do extrativismo ou da pesca ainda n&atilde;o encontraram uma alternativa s&oacute;lida de desenvolvimento.</p> <p> Empresas de cosm&eacute;tico e de medicamentos, por exemplo, t&ecirc;m se aproximado da regi&atilde;o em formas de parceria, mas a discuss&atilde;o sobre como mensurar o valor do conhecimento do uso de recursos, que tem sido repassado entre gera&ccedil;&otilde;es, ainda est&aacute; distante do cotidiano dessas pessoas que convivem com a contradi&ccedil;&atilde;o da abund&acirc;ncia de recursos naturais e a escassez de servi&ccedil;os b&aacute;sicos, como educa&ccedil;&atilde;o e sa&uacute;de.<br /> &nbsp;<br /> &ldquo;Falar hoje de reparti&ccedil;&atilde;o de beneficio desses produtos e conhecimento &eacute; complicado porque &eacute; um tema que n&atilde;o se discute abertamente nas comunidades. &Eacute; uma discuss&atilde;o das empresas ou do governo, mas as comunidades n&atilde;o sabem o que isso significa&rdquo;, explicou Josineide Malheiros, extrativista da Ilha das Cinzas, em Gurup&aacute;, no Arquip&eacute;lago de Maraj&oacute;, situado no estado do Par&aacute;. &ldquo;Nas comunidades [do Arquip&eacute;lago de Maraj&oacute;] n&atilde;o existe discuss&atilde;o. Se o debate n&atilde;o est&aacute; claro em cima, para as empresas e para o governo, como vai estar claro para gente que est&aacute; no campo, sem acesso &agrave; informa&ccedil;&atilde;o? N&atilde;o temos internet, o sistema de transporte &eacute; falho, n&atilde;o temos educa&ccedil;&atilde;o e sa&uacute;de&rdquo;, disse.<br /> &nbsp;<br /> Como integrante do Grupo de Trabalho Amaz&ocirc;nico, Josi, como prefere ser chamada, percorre todas as comunidades da regi&atilde;o e explica que muitas vezes atravessadores fazem propostas de compra direta, com pre&ccedil;os mais baixos. Ela conta ainda que, muitas vezes, conhecimentos sobre ch&aacute;s, banhos e outros &ldquo;poderes das plantas&rdquo;, repassados entre gera&ccedil;&otilde;es nas comunidades locais, s&atilde;o relatados, ingenuamente a pessoas de fora. O resultado &eacute; que a sabedoria local, quando chega em territ&oacute;rio urbano, &eacute; utilizada por grandes empreendedores como agregado de grande rentabilidade. Os detentores do conhecimento, no entanto, na maior parte das vezes n&atilde;o dividem esse lucro.<br /> &nbsp;<br /> &ldquo;As empresas que chegam para negociar v&ecirc;m com planos de desenvolvimento prontos, sem saber o que queremos desenvolver&rdquo;, lamenta Josi. Uma das principais investidoras da regi&atilde;o, a empresa de cosm&eacute;ticos Natura, garante que todo o processo de aquisi&ccedil;&atilde;o de produtos e conhecimentos tradicionais locais s&atilde;o negociados previamente com as popula&ccedil;&otilde;es amazonenses. Das 32 comunidades tradicionais com que a empresa mant&eacute;m parceria, 25 est&atilde;o na Amaz&ocirc;nia.<br /> &nbsp;<br /> &ldquo;As comunidades ainda n&atilde;o conhecem muito bem as leis. Tem grupos que est&atilde;o mais articulados, mas muitas comunidades n&atilde;o sabem como negociar seus produtos e conhecimento&rdquo;, contou Renata Puchala, representante da Natura. Durante o Encontro do F&oacute;rum Amaz&ocirc;nia Sustent&aacute;vel, a porta voz da empresa assegurou que mant&ecirc;m um di&aacute;logo aberto com todos os grupos e que o trabalho acaba disseminando as informa&ccedil;&otilde;es que as comunidades deveriam ter .<br /> &nbsp;<br /> O setor privado mant&eacute;m a cr&iacute;tica sobre a atual lei de reparti&ccedil;&atilde;o de benef&iacute;cios, regulada pela Medida Provis&oacute;ria (MP) 2.186-16/2001, que regulamenta o acesso aos recursos gen&eacute;ticos e aos conhecimentos tradicionais associados no Brasil. De acordo com o Movimento Empresarial pela Biodiversidade &ndash; Brasil (Mebb) criado em 2010, a MP &ldquo;&eacute; um desest&iacute;mulo &agrave; pesquisa e ao desenvolvimento de processos e produtos que fa&ccedil;am uso da biodiversidade brasileira&rdquo;. Nos &uacute;ltimos dias, o movimento entregou uma s&eacute;rie de recomenda&ccedil;&otilde;es ao Minist&eacute;rio do Meio Ambiente para alterar as regras.<br /> &nbsp;<br /> &ldquo;Hoje em situa&ccedil;&otilde;es em que a lei n&atilde;o define nada, a gente termina conversando abertamente com os grupos para ver como encaminhar da melhor forma. Temos tido resultados positivos. Os &ocirc;nus s&atilde;o as especula&ccedil;&otilde;es das partes que n&atilde;o entendem os gargalos da lei e picham um trabalho que tem sido feito de forma compartilhada com as comunidades&rdquo;, disse a representante da Natura, acrescentando ainda que a burocracia e a morosidade fazem com que muitos processos de pesquisa fiquem at&eacute; cinco anos para an&aacute;lise do Conselho de Gest&atilde;o do Patrim&ocirc;nio Gen&eacute;tico (Cgen).<br /> &nbsp;<br /> &ldquo;N&atilde;o d&aacute; para pensar em inova&ccedil;&atilde;o para uma empresa ou para o Brasil com processos que ficam quatro a cinco anos parados numa inst&acirc;ncia p&uacute;blica. Que inova&ccedil;&atilde;o acontece? Se for esperar, a gente n&atilde;o faz nada. N&atilde;o tem perspectiva. O que a gente termina fazendo? A gente protocola no Cgen, mas j&aacute; reparte os benef&iacute;cios e faz as coisas acontecerem&rdquo;, contou.<br /> &nbsp;<br /> Para a promotora de Justi&ccedil;a do Minist&eacute;rio P&uacute;blico Estadual do Par&aacute; (MPE-PA), Eliane Moreira, que acompanha os conflitos na regi&atilde;o de Maraj&oacute;, a atual lei n&atilde;o &eacute; essencialmente inadequada. &ldquo;A pior inadequa&ccedil;&atilde;o dela &eacute; que foi feita sem a participa&ccedil;&atilde;o da sociedade civil e sem debate dos setores interessados, mas existem quesitos positivos. Por exemplo, a previs&atilde;o de que pode haver benef&iacute;cios que n&atilde;o s&atilde;o financeiros e que estes benef&iacute;cios t&ecirc;m que ser justos e equitativos&rdquo;, disse ela. Os princ&iacute;pios est&atilde;o assegurados na Conven&ccedil;&atilde;o 169 da Organiza&ccedil;&atilde;o Internacional do Trabalho (OIT).<br /> &nbsp;<br /> Em 2003, o governo federal tentou estabelecer um di&aacute;logo entre sociedade civil e os setores privado, industrial e de ci&ecirc;ncia e tecnologia, mas o debate n&atilde;o avan&ccedil;ou. &ldquo;Realmente &eacute; necess&aacute;rio ter um marco legal que d&ecirc; estabilidade para as rela&ccedil;&otilde;es e que n&atilde;o seja uma medida provis&oacute;ria. &Eacute; necess&aacute;rio que se recupere esse debate amplo&rdquo;, disse a promotora, relatando que existem preju&iacute;zos jur&iacute;dicos &ndash; com a falta de consulta nas quest&otilde;es que afetam os direitos dos povos tradicionais, e pr&aacute;ticos &ndash; pela falta de percep&ccedil;&atilde;o das pessoas que vivem essas realidades.<br /> &nbsp;<br /> Ainda assim, a promotora acredita que por mais que falte clareza sobre procedimentos, as bases est&atilde;o se solidificando &ldquo;com o consentimento pr&eacute;vio, a reparti&ccedil;&atilde;o dos benef&iacute;cios e o respeito aos direitos das comunidades&rdquo;. Eliane Moreira reconhece que existe burocracia, mas diz que hoje &eacute; melhor do que era no in&iacute;cio.</p> <p> *A rep&oacute;rter viajou a convite do F&oacute;rum da Amaz&ocirc;nia Sustent&aacute;vel<br /> <em>Edi&ccedil;&atilde;o: Denise Griesinger</em></p> Encontro do Fórum Amazônia Sustentável extrativismo Grupo de Trabalho Amazônico Instituto Ethos de empresas e Responsabilidade Social Meio Ambiente Natura recursos naturais Fri, 07 Dec 2012 12:39:48 +0000 deniseg 709622 at https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/