Embaixada no Chile https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//taxonomy/term/139498/all pt-br Documentos do Arquivo Nacional mostram que militares brasileiros já previam golpe antes da posse de Allende no Chile https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//noticia/2012-08-02/documentos-do-arquivo-nacional-mostram-que-militares-brasileiros-ja-previam-golpe-antes-da-posse-de-a <p> Alex Rodrigues<br /> <em>Rep&oacute;rter Ag&ecirc;ncia Brasil</em></p> <p> <img alt="" src="https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//sites/_agenciabrasil/files/imagecache/300x225/gallery_assist/27/gallery_assist700258/prev/AgenciaBrasil02082012ALR10a.jpg" style="margin: 3px; width: 300px; float: right; height: 225px" />Bras&iacute;lia - Meses antes das elei&ccedil;&otilde;es presidenciais chilenas de 1970, os militares brasileiros j&aacute; previam que as For&ccedil;as Armadas chilenas reagiriam a uma eventual vit&oacute;ria do candidato Salvador Allende, como de fato aconteceu, em 1973. A presen&ccedil;a do Chile socialista na Organiza&ccedil;&atilde;o dos Estados Americanos (OEA) tamb&eacute;m era vista como amea&ccedil;a &agrave; seguran&ccedil;a continental.</p> <p> Um dos milhares de documentos do Estado-Maior das For&ccedil;as Armadas (Emfa) &ndash; extinto com a cria&ccedil;&atilde;o do Minist&eacute;rio da Defesa - agora disponibilizados ao p&uacute;blico pelo Arquivo Nacional, em Bras&iacute;lia, confirmam que a situa&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica interna do Chile era objeto da aten&ccedil;&atilde;o dos militares e diplomatas brasileiros desde antes de Allende chegar ao poder pelo voto direto.</p> <p> Os militares e diplomatas tamb&eacute;m temiam pela seguran&ccedil;a da embaixada e dos representantes brasileiros que trabalhavam no pa&iacute;s vizinho, onde a tens&atilde;o pol&iacute;tica aumentava na medida em que cresciam as chances de o primeiro presidente socialista ser eleito e empossado democraticamente.</p> <p> &ldquo;A situa&ccedil;&atilde;o [chilena] &eacute; muito grave face &agrave; conjuntura mundial e, principalmente, a da Am&eacute;rica Latina, se considerarmos os rumos que poder&aacute; tomar em setembro pr&oacute;ximo, por ocasi&atilde;o das elei&ccedil;&otilde;es presidenciais chilenas&rdquo;, pondera o ent&atilde;o coronel Luiz Jos&eacute; Torres Marques.</p> <p> No documento, o coronel relata a seus superiores o resultado de uma reuni&atilde;o realizada na embaixada brasileira no Chile, em maio de 1970, e da qual participaram, al&eacute;m do embaixador brasileiro Ant&ocirc;nio C&acirc;ndido da C&acirc;mara Canto, todos os secret&aacute;rios e adidos militares da embaixada.</p> <p> Em sua mensagem, o coronel afirmava que o candidato do Partido Nacional, o empres&aacute;rio e ex-presidente da Rep&uacute;blica Jorge Alessandri Rodriguez (1958/1964), que considerava &ldquo;um homem austero e digno&rdquo;, era o preferido da &ldquo;classe mais elevada da popula&ccedil;&atilde;o chilena e daqueles que n&atilde;o desejam ver o comunismo implantado no pa&iacute;s&rdquo;. Para o brasileiro, se Alessandri vencesse as elei&ccedil;&otilde;es por maioria absoluta, o Chile &ldquo;continuaria com um governo democr&aacute;tico&rdquo;.</p> <p> O coronel, contudo, n&atilde;o descartava nem a hip&oacute;tese de Alessandri vencer por maioria relativa e o Congresso acabar referendando a vit&oacute;ria de Allende nem a de o socialista vencer por maioria relativa e terminar empossado. Em ambos os casos, conclu&iacute;a Marques, as prov&aacute;veis consequ&ecirc;ncias seriam as mesmas: a eclos&atilde;o de um movimento militar a fim de impedir Allende de governar.</p> <p> O coronel tamb&eacute;m informa a seus superiores que os representantes diplom&aacute;ticos brasileiros estariam vivendo em clima de inseguran&ccedil;a, que atribui &agrave; presen&ccedil;a de milhares de refugiados brasileiros que, ap&oacute;s o golpe militar de 1964, buscaram asilo pol&iacute;tico no Chile. Em sua mensagem, Marques procura convencer o Estado-Maior das For&ccedil;as Armadas e, portanto, o governo brasileiro, da necessidade de dar maior seguran&ccedil;a &agrave; representa&ccedil;&atilde;o brasileira.</p> <p> Entendendo que os diplomatas estavam sob risco, o militar reclamava da &ldquo;inexist&ecirc;ncia de um sistema m&iacute;nimo de seguran&ccedil;a que lhes d&ecirc; uma cobertura para as constantes amea&ccedil;as que sofrem por parte de elementos subversivos nacionais [chilenos] e de brasileiros que l&aacute; se refugiaram ap&oacute;s a revolu&ccedil;&atilde;o de mar&ccedil;o de 1964&rdquo;, sugerindo que o pr&oacute;prio embaixador C&acirc;mara Canto e sua fam&iacute;lia viviam &ldquo;enclausurados&rdquo;, na embaixada.</p> <p> Morto em 1977, C&acirc;mara Canto &eacute; apontado como o principal apoiador e elo entre o regime militar brasileiro e o governo do general Pinochet. &ldquo;Quando, por for&ccedil;a de suas atribui&ccedil;&otilde;es, ele tem que se ausentar, os secret&aacute;rios [da embaixada] e os adidos militares lhe d&atilde;o cobertura sum&aacute;ria, operando como se fossem policiais&rdquo;.</p> <p> Ap&oacute;s a vit&oacute;ria de Allende, o pr&oacute;prio chefe do Estado-Maior das For&ccedil;as Armadas, almirante Murillo Vasco do Valle Silva, solicitou ao presidente Emilio M&eacute;dici orienta&ccedil;&atilde;o de como a representa&ccedil;&atilde;o brasileira na Junta Interamericana de Defesa (JID) - uma entidade de assessoramento militar da Organiza&ccedil;&atilde;o dos Estados Americanos (OEA) - deveria proceder em caso de algum pa&iacute;s-membro propor o afastamento da representa&ccedil;&atilde;o chilena, a exemplo do que j&aacute; havia ocorrido com a delega&ccedil;&atilde;o cubana, suspensa em 1961.</p> <p> &ldquo;O programa socialista que est&aacute; sendo desenvolvido pelo presidente Salvador Allende [&hellip;] tende a criar desarmonia e desconfian&ccedil;a nos organismos onde s&atilde;o discutidas medidas de prote&ccedil;&atilde;o contra a infiltra&ccedil;&atilde;o ideol&oacute;gica comunista no Continente Americano&rdquo;, escreveu Silva, incomodado com a perman&ecirc;ncia da delega&ccedil;&atilde;o chilena na Junta, permitindo acesso &agrave;s sess&otilde;es e documentos contendo estudos e planos comuns de seguran&ccedil;a continental.</p> <p> &ldquo;Esta chefia, considerando a atual conjuntura chilena, &eacute; de parecer de que o chefe da delega&ccedil;&atilde;o brasileira dever&aacute; apoiar qualquer a&ccedil;&atilde;o que vise a preserva&ccedil;&atilde;o da seguran&ccedil;a necess&aacute;ria aos j&aacute; mencionados estudos&rdquo;. &nbsp;</p> <p> Reunida, a documenta&ccedil;&atilde;o militar disponibilizada ao p&uacute;blico desde ontem (1&ordm;) soma quase 130 volumes. A maior parte dos pap&eacute;is, relativos ao per&iacute;odo de 1947 a 1991, s&atilde;o documentos administrativos sem maior import&acirc;ncia, como pedidos de pareceres ou documentos funcionais para fins de promo&ccedil;&atilde;o, mas h&aacute; tamb&eacute;m documentos relevantes como um aviso sobre irregularidades em concorr&ecirc;ncia p&uacute;blica.</p> <p> <em>Edi&ccedil;&atilde;o: Davi Oliveira</em></p> Arquivo Nacional documentos do Emfa Arquivos da ditadura Chile no OEA Embaixada no Chile embaixador Câmara Canto Nacional Thu, 02 Aug 2012 20:36:04 +0000 davi.oliveira 700268 at https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/