viola https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//taxonomy/term/121041/all pt-br Especialistas e cantores divergem sobre futuro da viola e da música caipira https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//noticia/2011-06-11/especialistas-e-cantores-divergem-sobre-futuro-da-viola-e-da-musica-caipira <p> Marli Moreira<br /> <em>Rep&oacute;rter da Ag&ecirc;ncia Brasil</em></p> <p> S&atilde;o Paulo - Ferrenho nacionalista e defensor da preserva&ccedil;&atilde;o da m&uacute;sica de raiz, o jornalista Assis &Acirc;ngelo n&atilde;o &eacute; otimista quando o assunto &eacute; o espa&ccedil;o reservado <span class="Object" id="OBJ_PREFIX_DWT55"><span class="Object" id="OBJ_PREFIX_DWT56">hoje</span></span> &agrave; m&uacute;sica caipira.</p> <p> &ldquo;Essa parafern&aacute;lia eletr&ocirc;nica, essas novidades loucas, de coisas imediatas que est&atilde;o chegando a todo canto e a toda hora &agrave; velocidade do raio est&atilde;o servindo para acabar com o que h&aacute; de bom no tocante &agrave; moda de viola, &agrave;s m&uacute;sicas do campo. Tudo isso est&aacute; indo embora, o que est&aacute; prevalecendo e o que vai prevalecer &eacute; a transforma&ccedil;&atilde;o para pior das composi&ccedil;&otilde;es musicais e da arte em geral.&rdquo;</p> <p> Na avalia&ccedil;&atilde;o dele, o caminho &eacute; o da educa&ccedil;&atilde;o, com a inclus&atilde;o da disciplina da &ldquo;boa m&uacute;sica&rdquo; nas escolas municipais, estaduais e federais. &ldquo;As leis de incentivo podem ajudar nesse processo, mas n&oacute;s precisamos <span class="Object" id="OBJ_PREFIX_DWT57"><span class="Object" id="OBJ_PREFIX_DWT58">ter</span></span> professores capacitados com conhecimento do folclore brasileiro para que se descubra o Brasil desconhecido de muitos.&quot;</p> <p> Embora tamb&eacute;m lamente a &ldquo;perda da pureza&rdquo; das antigas modas de viola, o surgimento de novos talentos &eacute; comemorado pelo cantor L&eacute;u (Walter Paulino da Costa) da dupla Liu (Lincoln &nbsp;Paulino da Costa) e L&eacute;u. Com 53 anos de carreira, a dupla vem de uma fam&iacute;lia da m&uacute;sica caipira.</p> <p> &ldquo;<span class="Object" id="OBJ_PREFIX_DWT59"><span class="Object" id="OBJ_PREFIX_DWT61">Hoje</span></span> a gente v&ecirc; muitos jovens aderindo e tocando viola e tocando bem, inclusive, meninas, mo&ccedil;as, tocando viola. H&aacute; tamb&eacute;m muitas duplas cantando m&uacute;sica de raiz. Acho que apesar de a gente n&atilde;o <span class="Object" id="OBJ_PREFIX_DWT60"><span class="Object" id="OBJ_PREFIX_DWT62">ter</span></span> nenhuma ajuda da m&iacute;dia e de alguns apresentadores falarem tirando um &lsquo;sarrinho&rsquo;, querendo fazer goza&ccedil;&atilde;o, a m&uacute;sica de raiz sobrevive&rdquo;, disse.</p> <p> Para L&eacute;u, um dos tra&ccedil;os da m&uacute;sica caipira &eacute; que ela &ldquo;tem uma hist&oacute;ria com come&ccedil;o, meio e fim&rdquo;, enquanto as outras produzidas de estilo mais recente&nbsp; s&atilde;o marcadas apenas por &ldquo;um refr&atilde;ozinho, n&atilde;o tem hist&oacute;ria, n&atilde;o tem vida&rdquo; e consistem em &ldquo;cantar a mesma coisa 500 vezes pra ficar f&aacute;cil para a juventude repetir&rdquo;.</p> <p> Na avalia&ccedil;&atilde;o da dupla C&eacute;lia &amp; Celma, a valoriza&ccedil;&atilde;o da m&uacute;sica de raiz ainda &eacute; forte. &ldquo;Quando fomos apresentadoras do programa C&eacute;lia &amp; Celma, pelo Canal Rural por quase dez anos, n&oacute;s pudemos ver os jovens que come&ccedil;avam a fazer a verdadeira m&uacute;sica de raiz surgindo e aparecendo e ficamos impressionadas com a quantidade de gente e isso continua, principalmente, por causa da viola, instrumento s&iacute;mbolo da m&uacute;sica de raiz&rdquo;, relata Celma .</p> <p> Vers&aacute;teis, essas cantoras lutam pela preserva&ccedil;&atilde;o do folclore brasileiro e t&ecirc;m orgulho de terem tido um de seus trabalhos reconhecido fora do Brasil. Em <span class="Object" id="OBJ_PREFIX_DWT63"><span class="Object" id="OBJ_PREFIX_DWT64">abril de 2007</span></span>, elas foram a Pequim receber o pr&ecirc;mio Gourmand World Cookbook Awards, oferecido pelo governo chin&ecirc;s com o livro <em>Do Jeitinho de Minas</em>. Na obra, uma colet&acirc;nea da culin&aacute;ria mineira e sabedorias da cultura popular. Algumas das receitas foram depois musicadas em um CD.</p> <p> Para Jean Carlo Faustino, doutorando em sociologia da Universidade Federal de S&atilde;o Carlos (Ufscar), autor da tese em desenvolvimento O &Ecirc;xodo Cantado, &eacute; grande <span class="Object" id="OBJ_PREFIX_DWT65"><span class="Object" id="OBJ_PREFIX_DWT66">hoje</span></span> o interesse pela m&uacute;sica caipira, tanto por parte de acad&ecirc;micos especializados quanto de novos compositores.</p> <p> Ele observa que os circos, as emissoras de r&aacute;dio e os discos permitiram que um p&uacute;blico cada vez maior pudesse conhecer os cl&aacute;ssicos da m&uacute;sica de raiz com os &nbsp;dilemas e sentimentos do homem do campo com rela&ccedil;&atilde;o &agrave;s migra&ccedil;&otilde;es para as cidades.</p> <p> &ldquo;Desprovidos do seu maior bem [a terra] e do antigo meio [o rural] no qual eles se formaram e no qual realizavam sua humanidade, os camponeses de repente se viram obrigados a se adaptar a um mundo diferente e, n&atilde;o raro, hostil [o urbano] no qual chegavam normalmente em condi&ccedil;&otilde;es prec&aacute;rias.&rdquo;</p> <p> Em sua an&aacute;lise, defende que por for&ccedil;a de exig&ecirc;ncias do mercado, &ldquo;muita coisa de mau gosto foi produzida, gerando tamb&eacute;m uma vertente brega ou express&otilde;es da conhecida dor de cotovelo, normalmente, associada ao que veio a ser chamada de m&uacute;sica sertaneja. Surpreendentemente, essa nova vertente fez muito sucesso, &agrave;s vezes a ponto de ofuscar a m&uacute;sica caipira de raiz de conte&uacute;do e sensibilidade admir&aacute;veis&rdquo;.</p> <p> Apesar disso, Faustino considera que h&aacute; um p&uacute;blico fiel tanto para a m&uacute;sica de raiz quanto para a m&uacute;sica erudita, citando o fato de a dupla Ti&atilde;o Carreiro e Pardinho <span class="Object" id="OBJ_PREFIX_DWT67"><span class="Object" id="OBJ_PREFIX_DWT68">ter</span></span> vendido discos mesmo ap&oacute;s a morte deles. &ldquo;E isso ocorria at&eacute; poucos anos atr&aacute;s, antes do advento da distribui&ccedil;&atilde;o de m&uacute;sicas pela <em>internet</em>&rdquo;.</p> <p> <em>Edi&ccedil;&atilde;o: L&iacute;lian Beraldo</em></p> Cultura cultura popular música caipira música de raiz viola Sat, 11 Jun 2011 17:49:19 +0000 aquintiere 672574 at https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/ Som da viola é esperança de preservação da música caipira https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//noticia/2011-06-11/som-da-viola-e-esperanca-de-preservacao-da-musica-caipira <p> Marli Moreira<br /> <em>Rep&oacute;rter da Ag&ecirc;ncia Brasil</em></p> <p> S&atilde;o Paulo - Artistas e estudiosos da cultura popular dizem que est&aacute; crescendo no pa&iacute;s o n&uacute;mero de jovens interessados em aprender a tocar viola, instrumento que surgiu no Brasil na &eacute;poca da catequiza&ccedil;&atilde;o ind&iacute;gena pelos jesu&iacute;tas e foi trazido pelos portugueses.</p> <p> A expectativa de alguns grupos tradicionalistas &eacute; a de que esses m&uacute;sicos novatos n&atilde;o deixem morrer a arte da m&uacute;sica caipira, tamb&eacute;m conhecida como m&uacute;sica de raiz. No entanto, &ldquo;&eacute; irreal manter a arte da primeira gera&ccedil;&atilde;o da m&uacute;sica caipira&rdquo;, pondera o jornalista Jos&eacute; Hamilton Ribeiro, autor do livro<em> M&uacute;sica Caipira</em>.</p> <p> Para ele, existem tr&ecirc;s vertentes distintas desse g&ecirc;nero musical. Uma delas &eacute; o resultado do trabalho dos &ldquo;patriarcas&rdquo; que compunham poesia tirada do dia a dia numa fazenda ou num s&iacute;tio, &nbsp;lugar onde esses artistas viviam. A outra faceta &eacute; a da <span id="OBJ_PREFIX_DWT169"><span id="OBJ_PREFIX_DWT170">segunda</span></span> gera&ccedil;&atilde;o, do chamado sertanejo universit&aacute;rio, formada por m&uacute;sicos que migraram ainda &nbsp;jovens &nbsp;para as cidades. A &uacute;ltima vertente diz respeito &agrave; &nbsp;safra atual de m&uacute;sicos, que j&aacute; nasceram nas cidades e n&atilde;o tem o conv&iacute;vio com o meio rural.</p> <p> Jos&eacute; Hamilton lembra que a Universidade de S&atilde;o Paulo (USP) tem uma c&aacute;tedra para o ensino da viola e que surgem por todos os cantos novas orquestras elegendo esse instrumento. Por&eacute;m, est&aacute; convicto de que s&atilde;o outros g&ecirc;neros fruto da evolu&ccedil;&atilde;o socioecon&ocirc;mica.</p> <p> Em seu livro, Jos&eacute; Hamilton selecionou o que considera as 270 maiores m&uacute;sicas caipiras. Entre as dez melhores modas de viola est&atilde;o <em>A Morte do Carreiro</em>, do Z&eacute; Carreiro e Carreirinho; <em>Rei do Gado</em>, de Teddy Vieira e <em>Mo&ccedil;a Boiadeira</em>, de Raul Torres.</p> <p> Em sua <span id="OBJ_PREFIX_DWT171"><span id="OBJ_PREFIX_DWT173">quinta</span></span> reimpress&atilde;o, a obra acompanha um DVD, no qual m&uacute;sicos da <span id="OBJ_PREFIX_DWT172"><span id="OBJ_PREFIX_DWT174">segunda</span></span> gera&ccedil;&atilde;o da m&uacute;sica caipira entre os quais est&atilde;o Dino Franco, Z&eacute; do Rancho e Cacique e Pag&eacute; fazem uma homenagem ao mais antigo representante vivo da m&uacute;sica de raiz: Tinoco, da dupla Tonico e Tinoco.</p> <p> Jos&eacute; Perez, nome de batismo de Tinoco, nasceu em Botucatu, no interior de S&atilde;o Paulo e est&aacute; com mais de 90 anos. O irm&atilde;o dele, Jo&atilde;o Salvador Perez, nascido em S&atilde;o Manuel, tamb&eacute;m no interior paulista, que ficou conhecido como o Tonico, morreu em <span id="OBJ_PREFIX_DWT175"><span id="OBJ_PREFIX_DWT176">13 de agosto de 1994</span></span>. A dupla gravou mais de 80 discos e se apresentou em milhares de <em>shows</em> pelo pa&iacute;s afora.</p> <p> Com as mudan&ccedil;as no meio rural, na maioria das pequenas propriedades a casa r&uacute;stica iluminada por lamparinas &eacute; coisa do passado e, em &nbsp;muitas delas, vivem pessoas com telefones celulares, o que encurtou a dist&acirc;ncia com a &aacute;rea urbana. Antes desse meio de comunica&ccedil;&atilde;o e da chegada da energia el&eacute;trica, a maioria dos moradores da ro&ccedil;a tinha como &uacute;nica op&ccedil;&atilde;o o r&aacute;dio de pilhas para saber not&iacute;cias de um parente hospitalizado, por exemplo, ou outra informa&ccedil;&atilde;o urgente. O locutor da emissora de r&aacute;dio da cidade mais pr&oacute;xima se encarregava de mandar os recados.</p> <p> Esse cotidiano isolado das grandes cidades, o dia a dia na lavoura, no trato com os animais e a rica natureza davam boas hist&oacute;rias para a composi&ccedil;&atilde;o de milhares de can&ccedil;&otilde;es que se espalharam pelo pa&iacute;s. A mesma inspira&ccedil;&atilde;o vinha do sentimento do caboclo rec&eacute;m-sa&iacute;do da ro&ccedil;a para a vida urbana.</p> <p> Uma das maiores int&eacute;rpretes da m&uacute;sica de raiz e uma das vanguardista da participa&ccedil;&atilde;o de mulher nesse g&ecirc;nero musical, Inezita Barroso, nome art&iacute;stico de Ignez Magdalena Aranha de Lima, reconhece que o cotidiano da ro&ccedil;a e a figura do caipira sa&iacute;ram das letras das m&uacute;sicas.</p> <p> Ela considera, entretanto, que o talento e o modo de compor permanece igual, mas com novos elementos de inspira&ccedil;&atilde;o. &ldquo;Agora eles [compositores] contam a hist&oacute;ria de bandido que assaltou o carro, que matou a mulher, contam um monte de coisas modernas&rdquo;. Ela lembra que eles, no passado, os cantores eram meio n&ocirc;mades, &ldquo;penduravam aquela violinha no arreio e iam cantar em outra cidade um fato que aconteceu na cidade dele. Eram modas compridas, contavam tudo minuciosamente&rdquo;, disse a artista.</p> <p> Inezita &eacute; instrumentista, folclorista e formada em biblioteconomia pela USP.</p> <p> &ldquo;Tem muita gente aprendendo viola, tem surgido as orquestras de viola e at&eacute; est&atilde;o fabricando violas pequenas para a crian&ccedil;ada. Acho que a viola n&atilde;o vai morrer. A gente deu um impulso e, agora, ela est&aacute; pegando o jeito&rdquo;, disse Inezita, no fim de maio, pouco antes de um bate-papo com jovens sobre o livro <em>A Menina Inezita Barros</em>o.</p> <p> Escrito pelo jornalista e conhecedor da cultura popular, Assis &Acirc;ngelo, que tamb&eacute;m &eacute; formado em artes pl&aacute;sticas na Para&iacute;ba, o livro traz uma biografia da artista, al&eacute;m de abordar a trajet&oacute;ria dessa int&eacute;rprete com quase 60 anos de carreira.</p> <p> <em>Edi&ccedil;&atilde;o: L&iacute;lian Beraldo</em></p> <p> &nbsp;</p> Cultura cultura popular música caipira música de raiz viola Sat, 11 Jun 2011 17:36:30 +0000 aquintiere 672573 at https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/